Levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), com base na plataforma Globocan do IARC/OMS, mostra que o câncer de ovário é o terceiro tipo ginecológico mais comum no mundo, atrás apenas dos cânceres de colo do útero e endométrio. Apesar disso, ocupa o segundo lugar em mortalidade por conta da alta taxa de diagnóstico tardio
Segundo dados da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) – Globocan 2022, o câncer de ovário é o terceiro tipo ginecológico mais comum no mundo, com cerca de 324 mil novos casos por ano, representando 22% dos cânceres ginecológicos. No entanto, conforme levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) nesta base, ele é o segundo câncer que mais mata entre os tumores ginecológicos, com 207 mil mortes anuais. O levantamento é um alerta alusivo ao Dia Mundial do Câncer de Ovário, em 8 de maio.
Confira os dados do Globocan do IARC/OMS:
Tipo de câncer ginecológico | Incidência anual | Mortalidade anual |
Colo do útero | 662.301 | 348.874 |
Endométrio (corpo do útero) | 420.368 | 97723 |
Ovário | 324.603 | 206.956 |
Vagina | 18.819 | 8.240 |
Vulva | 47.336 | 18.579 |
TOTAL | 1.473.427 | 680.372 |
Apesar de não ser o mais frequente, ele é proporcionalmente mais letal: das 680 mil mortes por câncer ginecológico estimadas por ano, 30,4% são causadas pelo câncer de ovário. De acordo com o programa SEERS, do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, apenas 20% dos casos de câncer de ovário são diagnosticados em estágio inicial, com a doença restrita ao ovário. Nesses casos, a taxa de sobrevida em cinco anos é alta, atingindo 91,7%. No entanto, a maioria das pacientes — cerca de 55% — já apresenta metástase no momento do diagnóstico, o que impacta negativamente os desfechos. Em comparação, o câncer de colo do útero é identificado em estágio inicial em 42% dos casos (com sobrevida de 91,4% com diagnóstico precoce), e o câncer de endométrio, em 67% dos casos (com sobrevida de 95,1% nesses casos mais iniciais).
Os dados observados nos Estados Unidos se refletem também no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados 7.310 novos casos de câncer de ovário em 2025, o que corresponde a 3% de todos os cânceres entre as mulheres. Quando analisados apenas os três principais cânceres ginecológicos, o câncer de ovário também representa 22,7% dos casos, assim como ocorre na média mundial. Já a mortalidade também é mais elevada no país, sendo que em 2021 o câncer de ovário foi responsável por 4.037 mortes no país, superando o número de óbitos por câncer de endométrio (1.800) e ficando atrás apenas do câncer de colo do útero (6.606).
Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e cirurgião oncológico, Reitan Ribeiro, o levantamento destaca um ponto crucial no enfrentamento do câncer de ovário: a importância do diagnóstico precoce. “O câncer de colo do útero, por exemplo, conta com a vacina contra o HPV — que oferece mais de 90% de proteção — e com um método de rastreamento eficaz e amplamente conhecido pelas mulheres; o exame Papanicolau. Já o câncer de ovário, além de apresentar sintomas silenciosos e um comportamento biológico complexo, ainda não dispõe de um exame de rastreamento eficaz”, explica o especialista.
Além disso, enquanto a maioria dos cânceres têm entre 5% e 10% de origem hereditária, no câncer de ovário essa proporção é significativamente maior: cerca de 25% dos casos estão associados a mutações genéticas (herdadas ao nascimento), principalmente nos genes BRCA1 e BRCA2, entre outros. “Uma possibilidade real de avançarmos no diagnóstico precoce do câncer de ovário seria oferecer acesso aos testes genéticos pelo SUS”, afirma Reitan.
Principais sintomas do câncer de ovário:
- Inchaço ou aumento do abdômen
- Sensação de saciedade rápida ao comer
- Perda de peso
- Desconforto na região pélvica
- Fadiga
- Dor nas costas
- Alterações no hábito intestinal, como constipação
- Necessidade frequente de urinar
Tratamento
Para o tratamento do câncer de ovário geralmente se combina a cirurgia e a quimioterapia, com variações, conforme o estágio da doença e o desejo da paciente de preservar a fertilidade. “Em casos iniciais, pode ser realizada a remoção de apenas um ovário e sua tuba uterina. Quando ambos os ovários estão comprometidos, mas sem sinais de disseminação, a cirurgia pode preservar o útero, permitindo futuras gestações com óvulos próprios ou de doadora. Em situações mais avançadas, é comum a remoção dos ovários, tubas, útero, linfonodos e o omento (camada de tecido gorduroso, que cobre os órgãos abdominais). Mesmo para câncer em estágio avançado, a cirurgia busca remover completamente o tumor, sendo a quimioterapia indicada antes ou depois do procedimento”, finaliza Reitan.