Confira artigo de Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria
Por muitos anos, mergulhei nas complexidades humanas, das quais há vários mestres em descrevê-las. E, em uma de minhas reflexões, inspiradas pela prosa de alguns deles, deparei-me com uma angústia universal: a timidez.
Muitos de nós, profissionais de diferentes áreas, carregamos o fardo silencioso de não conseguirmos expressar plenamente nossos pensamentos e sentimentos. Mas, assim como as montanhas são esculpidas pela paciência do tempo, podemos reconfigurar nossa timidez com pequenos gestos e atitudes. Eis algumas dicas para aqueles que desejam desvendar o silêncio e se expressar com mais confiança:
- Aceitação e autoconhecimento: antes de qualquer ação transformadora, precisamos nos olharmos com a sinceridade das águas calmas de um lago. A timidez não é uma falha, mas uma característica. Ela faz parte de nossa construção como seres humanos e, muitas vezes, é fruto de experiências passadas. Ao aceitá-la, podemos começar a moldar nossa abordagem diante dela. Nunca fui e não alcançarei a maestria nesse tema, mas posso me tornar melhor.
- Pequenos passos: como diz o adágio popular, “a jornada de mil quilômetros começa com um passo”. Se o desafio de se expressar em grandes grupos parece assustador, comece com pequenas conversas. A confiança é como um músculo, e cada pequeno diálogo fortalece sua habilidade de se comunicar.
- Escuta ativa: a timidez, muitas vezes, reside na percepção de que não temos nada valioso a dizer. Porém, a arte de escutar, que alguns autores brasileiros tão bem enfatizam em suas obras, é um presente. Ao ouvir ativamente, não apenas acumulamos sabedoria, mas também criamos conexões genuínas, que podem suavizar nossas inseguranças.
- Prática deliberada: tal qual um artesão aprimora sua habilidade a cada obra criada, nós podemos praticar nossa comunicação. Clubes de oratória, aulas de teatro e cursos de expressão vocal são espaços propícios para exercitar nossa voz.
- Celebração e reflexão: cada interação, seja ela exitosa ou não, é um aprendizado. Em vez de se ater aos momentos de falha, celebre cada pequeno sucesso. Ao mesmo tempo, reserve um momento de introspecção para refletir sobre as interações e identificar áreas de melhoria.
Essa pequena coleção de 5 passos foi essencial para sair da timidez patológica para algo controlado. Como disse outras vezes, tenho dificuldade para vencê-la, porém a prática deliberada tem me ajudado.
Quando comecei a lecionar, senti certa timidez em frente aos alunos e medo do julgamento. Após alguns deslizes, feedback e advertências (por que não?), fui perdendo a paúra de falar e comecei a me soltar. Pensava tal qual um alegre integrante de nosso congresso: “pior que tá, não fica”. E seguia.
Aulas de teatro também me ensinaram técnicas interessantes sobre postura, aquecimento de voz, exercícios para quebrar o gelo e improvisação. Aos poucos, consegui me sentir mais leve e solto na hora de soltar o verbo. Lá, também tive exercícios de escuta ativa. Por meio de perguntas, deveria estender o assunto por mais de 10 minutos, mesmo que o outro integrante tivesse que se mostrar desinteressado.
Em nosso intrincado tecido social, cada voz é fundamental. Nossa timidez, quando abordada com gentileza e determinação, pode ser transformada em uma ponte para conexões significativas. Não é o volume da voz, mas a sinceridade das palavras que verdadeiramente ressoa nos corações dos outros.
Aproveite minha pequena contribuição se, assim como eu, sofre de timidez crônica. Acima de tudo, seja sincero – e se prepare, lendo bons jornais e fontes de informação. Quanto mais assunto e repertório temos, mais fácil fica a conversa.
*Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.