Ao mesmo tempo, 68% apontam a economia como principal obstáculo para sair de férias
O desejo de viajar voltou com força ao calendário do brasileiro, mas a conta não fecha para todos. De acordo com pesquisa inédita da Hibou, realizada entre 14 e 19 de agosto de 2025 com 1.295 entrevistados, 53% da população pretende viajar nos próximos 12 meses. O índice representa um salto de cinco pontos percentuais em relação a 2024, quando apenas 48% afirmaram ter planos semelhantes.
O entusiasmo convive com um dilema real: 68% apontam a situação econômica pessoal como o maior freio para realizar viagens. No ano passado, essa preocupação era de 57%. O retrato é de um país em que inflação, juros altos e dólar instável desafiam o planejamento, mas não derrubam o desejo por férias.
“Viajar é parte do projeto de vida do brasileiro. A diferença é que hoje cada passo precisa ser calculado: destino, tempo e até a forma de pagamento entram no radar. O turismo se transformou em um reflexo direto da economia doméstica”, analisa Lígia Mello, CSO da Hibou.
EUA perdem charme, Europa volta a seduzir
Os destinos escolhidos também revelam mudanças no comportamento do viajante brasileiro. A Europa voltou a crescer e passou de 21% em 2024 para 26% em 2025, sinalizando uma retomada após anos de retração. Já a América do Norte subiu levemente de 10% para 12%, mas enfrenta desgaste: 41% dos brasileiros afirmam que as atuais políticas dos Estados Unidos diminuem sua vontade de viajar para lá. Apenas 5% dizem que as mudanças aumentaram o interesse.
A América Latina também ganhou pontos, passando de 8% para 10% dos desejos, enquanto Ásia e Oceania seguem discretas, com 4% e 2% respectivamente. O impacto destes destinos são parte da geopolítica quanto do custo-benefício.
Vai pra onde? Pro Brasil mesmo
Apesar do interesse crescente por destinos internacionais, o Brasil continua como a principal escolha dos viajantes. Mais da metade dos entrevistados (56%) pretende conhecer outros estados e 26% querem viajar dentro do próprio estado, ambos índices em alta em relação a 2024 (55% e 23%, respectivamente). Mesmo diante de instabilidade econômica e do dólar volátil, a pesquisa aponta que o turismo nacional segue soberano e se consolida como opção de lazer acessível, diversa e em expansão.
Sem jeitinho brasileiro. O planejamento agora é detalhado
O jeitinho brasileiro não se aplica mais ao turismo. 41% dos entrevistados dizem que começam a planejar a viagem entre 3 e 6 meses antes, e outros 22% organizam tudo com um ano de antecedência. Apenas 10% deixam para resolver em cima da hora.
Esse cuidado se conecta ao bolso: 66% controlam os gastos para o dinheiro durar a viagem inteira, 40% monitoram o cartão de crédito e 26% convertem os preços constantemente para avaliar se estão pagando caro. Ainda assim, o parcelamento segue hábito para 35% dos viajantes, enquanto 25% só embarcam depois de juntar todo o valor necessário.
Quem viaja com quem?
O brasileiro continua viajando principalmente acompanhado: 38% preferem viajar com parceiro(a), 27% com a família e 14% com amigos. Mas um número chama atenção: 14% afirmam que pretendem viajar sozinhos em 2025, contra apenas 9% no ano anterior. O tempo médio ideal segue estável em 11 dias, mostrando que a busca é por pausas longas e completas.
Comer bem é o novo ponto turístico
Se antes a motivação para viajar era conhecer pontos turísticos, agora é experimentar boas comidas. 68% dos brasileiros afirmam que a gastronomia é o principal atrativo ao escolher um destino, superando parques (50%), passeios personalizados (49%) e compras (43%). Museus aparecem em 34% e eventos em 19%.
Na escolha do destino, 67% querem lugares para relaxar, 39% priorizam boa comida e 40% buscam roteiros intensos. O turismo virou experiência antes de ser deslocamento. “Hoje o consumidor quer ser surpreendido. Comer bem, viver algo único e ter histórias para contar são prioridades tão fortes quanto o próprio destino”, analisa Lígia.
E quando o sonho é interrompido…
Apesar da intenção de viajar estar em alta, cancelamentos e adiamentos continuam no radar. Em 2025, 26% dizem que vão viajar como planejado, contra apenas 15% no ano passado. Ainda assim, 7% cancelaram viagens por completo, 9% adiaram planos e 1% trocaram destinos internacionais por nacionais.
Entre os motivos, 60% citam questões pessoais ou familiares, 28% trabalho ou agenda e apenas 10% preocupações com economia ou dólar, uma queda significativa em relação a 2024, quando 20% responsabilizavam fatores financeiros.
O futuro segundo o viajante brasileiro
A pesquisa mostra também como o brasileiro imagina o turismo daqui para frente. 47% querem aplicativos que tragam informações culturais detalhadas como regras locais, horários e costumes. 42% desejam usar sua conta bancária em qualquer país do mundo, sem taxas extras, e 37% sonham com tradutores simultâneos em tempo real.
A modernização das viagens também passa por consumo: 32% defendem a redução de impostos para compras no exterior e 29% pedem aumento da faixa de isenção de produtos. “O futuro do turismo é digital e sem fronteiras. O consumidor pede conveniência e praticidade, e esse é um recado claro para o setor e para governos”, conclui Lígia.