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A saúde mental para além do ambiente de trabalho

Alberto José Niituma Ogata, Doutor em Medicina Preventiva (USP) e Pesquisador associado do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão em Saúde (FGV Saúde) / Foto: Divulgação
Alberto José Niituma Ogata, Doutor em Medicina Preventiva (USP) e Pesquisador associado do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão em Saúde (FGV Saúde) / Foto: Divulgação

Confira artigo de Alberto José Niituma Ogata, Doutor em Medicina Preventiva (USP) e Pesquisador associado do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão em Saúde (FGV Saúde)

É um fato conhecido que a saúde mental de muitos trabalhadores está prejudicada e, consequentemente, a produtividade geral do trabalho também. Dados do Ministério da Previdência Social mostram que, em 2023, foram concedidos 288.865 benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais e comportamentais no Brasil, representando um aumento de 38% em relação à 2022. Nesse contexto, as empresas têm se esforçado para cuidar da saúde de seus colaboradores no ambiente de trabalho, implementando programas de bem-estar. Porém, estamos observando que essas iniciativas têm impacto limitado na prevalência das condições mentais.

Entre as ações praticadas estão as palestras, oficinas, atendimentos online e lives voltadas para o cuidado com a saúde mental, em uma tentativa de fornecer informação aos colaboradores. No entanto, essas atividades são focadas unicamente no indivíduo e no ambiente de trabalho, quando as causas das condições mentais são multifatoriais, incluindo componentes genéticos, ambientais, além dos determinantes sociais e econômicos, como habitação, violência urbana, trânsito, renda, educação e relações sociais.

De acordo com o Ministério da Saúde, a quantidade de internações relacionadas a estresse e ansiedade em adolescentes e jovens (13-29 anos) aumentou 136% entre 2013 e 2023. Foi um salto de 690 para 1629 casos em dez anos. Considerando que provavelmente há subnotificação destes casos por conta da dificuldade de acesso ao cuidado em saúde mental, não podemos deixar de pensar que muitos dos transtornos mentais dos trabalhadores podem ter tido origem na infância ou adolescência.

Outro problema é que, por mais que as empresas estejam aprimorando seus programas de bem-estar, o estigma ainda está presente, em especial no ambiente de trabalho. O estudo People at Work 2023, realizado pelo ADP Research Institute, mostrou que 43% dos brasileiros não acham que seus gestores ou colegas estão preparados para conversar sobre saúde mental sem julgamento. Por mais que seja menos da metade da população, o dado ainda é muito alto, considerando a prevalência dos transtornos mentais no Brasil, país com maiores taxas de ansiedade e depressão da América Latina.

Um dos principais “remédios” do estigma é o conhecimento. É importante que os gestores se conscientizem principalmente sobre os Transtornos Mentais Comuns (TMC), que inclui a depressão, a ansiedade, as fobias e os distúrbios de stress pós-traumático, a fim de conduzir seus times de forma acolhedora. No entanto, é claro que a responsabilidade não é só do gestor.

Para combater os TMCs, é necessário que o paciente identifique os sintomas, receba avaliação médica e, se necessário, faça um tratamento especializado. Mas uma recente pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria da FMUSP e pela FGV com trabalhadores da indústria no Brasil mostrou taxas de cerca de 10% de quadros acentuados de ansiedade, depressão e estresse, sendo que muitos destes trabalhadores não possuíam diagnóstico nem tinham acompanhamento especializado (Santana, GL. Baptista, MC, Matos, GAG. Andrade, L. Malik, AM – The Well-being of Brazilian Industry Workers on Returning to the Physical Workplace During the COVID-19 Pandemic. Journal Occup. Environm. Med. 65(4), 246-254, 2023).

Portanto, a atenção com os TMCs não deve se restringir ao ambiente de trabalho, mas incluir os determinantes sociais de saúde e os diferentes níveis de atendimento. É fundamental que sua abordagem seja multissetorial e multiprofissional, incluindo as áreas de saúde corporativa, redes assistenciais do SUS e dos convênios médicos, com uma coordenação do cuidado que busque os melhores desfechos clínicos e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

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