Confira artigo de Alvaro Trilho, diretor de Gerenciamento de Riscos da WTW
O Brasil sempre foi conhecido pela estabilidade no clima, considerado diversificado e estável. Contudo, nos últimos anos temos observado o aumento de eventos climáticos extremos, deixando nítido o quanto as mudanças climáticas já afetam o dia a dia da população.
No início do ano, “sentimos na pele” o calor intenso do verão, que, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), entrou para história como o sexto mais quente do Brasil desde 1961, atingindo uma temperatura de 0,34º C acima da média.
Também vimos chuva expressivas em algumas regiões do Brasil, como São Paulo, Amazônia e Rio de Janeiro. A capital paulista, inclusive, foi atingida por uma das tempestades mais fortes de sua história, resultando em diversos alagamentos e cenas inacreditáveis na televisão.
Além dos efeitos mais perceptíveis, temos os impactos sociais e econômicos. Um estudo publicado no ano passado, no mesmo período das enchentes do Rio Grande do Sul, pelo engenheiro florestal e doutor pela UNESP, Marcos Kazmierczak, mostrou que os prejuízos com extremos climáticos no Brasil somam R$ 502,4 bilhões em 30 anos.
Mais recentemente, um levantamento do Atlas Digital de Desastres no Brasil, produzido pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), mostrou que o Brasil registrou, em 2024, o maior número de pessoas desabrigadas e desalojadas por desastres climáticos desde o início da série histórica, em 1991. No total, 1,13 milhão de brasileiros tiveram que deixar suas casas em razão de eventos extremos como chuvas intensas, estiagens e secas.
No entanto, mesmo com tudo isso acontecendo, ainda não entendemos que as mudanças climáticas – e todas as consequências advindas delas – já estão batendo à nossa porta.
Isso fica evidente no mais recente Crisis Management Annual Review – 2025, publicado pela WTW, que traz uma análise detalhada do que os mais diversos setores consideram como riscos, desafios e crises.
Ao longo de suas páginas, o termo “mudanças climáticas” aparece apenas uma vez. Já “desastres naturais” não é sequer citado. O mais alarmante é que esse é um levantamento global, deixando claro que se trata de uma percepção mundial, não apenas do Brasil.
Ou seja, mesmo com o aumento das temperaturas, as secas prolongadas, as chuvas torrenciais e outros eventos extremos impactando diariamente a vida de pessoas e empresas, muitos ainda não encaram essas situações como questões relevantes ou como motivos para gestão de crises.
Já está cada vez mais evidente que teremos muitas dificuldades para cumprir os objetivos climáticos, como o Acordo de Paris, o que, inevitavelmente, refletirá nas mudanças climáticas.
O fortalecimento de políticas de sustentabilidade, a implementação de estratégias para mitigar impactos ambientais e a adoção de soluções para lidar com esses desafios é mais urgente do que nunca.
O custo das mudanças climáticas já é uma realidade no Brasil. Agora, é preciso uma mudança de mentalidade coletiva para que possamos enfrentar os desafios de um clima cada vez mais imprevisível.