Atualização da norma trabalhista exige nova postura das empresas em relação a contratação, fiscalização e integração com fornecedores
São Paulo, maio de 2025 – Com entrada em vigor adiada para 2026, as empresas terão mais tempo para se adaptarem à nova redação da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), do Ministério do Trabalho e Emprego, que impõe mudanças significativas nas práticas empresariais relacionadas à saúde e segurança no trabalho. Mais do que reforçar obrigações com os próprios colaboradores, a atualização amplia o foco sobre os terceiros, exigindo das contratantes uma atuação mais ativa e integrada na prevenção de acidentes e riscos psicossociais.
A partir da nova norma, a gestão de fornecedores ganha status de prioridade na estrutura de governança das empresas. A responsabilidade compartilhada, antes presente apenas no discurso, agora se consolida como diretriz fiscalizável e estratégica.
Corresponsabilidade e fiscalização intensificada
De acordo com Rodrigo Vieira Vaz, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego, o novo texto da NR-1 introduz parâmetros mais rigorosos para a comprovação do cumprimento das obrigações legais por parte das empresas contratantes. “A ideia não é só responsabilizar a contratada, mas entender de que forma a contratante atua para assegurar que as normas estão sendo efetivamente seguidas. Terceirizar não é repassar risco, e sim compartilhar responsabilidade”, afirma.
Ainda segundo o auditor, a atualização da normativa reforça a importância da avaliação contínua dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho e cresce também a necessidade de ações mais estratégicas e propositivas dentro das empresas. Nesse contexto, o Diagnóstico de Saúde Mental surge como uma ferramenta essencial para ir além do cumprimento legal, promovendo uma cultura organizacional mais saudável e sustentável. “Essa abordagem pode ser decisiva na construção de ambientes de trabalho mais seguros e produtivos. Mais do que atender a uma exigência normativa, o diagnóstico de saúde mental permite que a empresa conheça melhor seus colaboradores e atue de forma preventiva, criando estratégias alinhadas à realidade do seu time.”
Mais proteção aos terceirizados
Para o Ministério Público do Trabalho, a nova NR-1 representa um avanço na luta por condições mais equânimes de segurança para todos os profissionais. “Boa parte dos acidentes e adoecimentos ocorre entre prestadores de serviços que, muitas vezes, atuam em atividades críticas sem o mesmo nível de proteção dos colaboradores internos”, destaca Cirlene Luiza Zimmermann, coordenadora nacional da Codemat/MPT. “A norma fortalece a obrigação de integrar esses profissionais à cultura de segurança das empresas contratantes”.
Cirlene reforça que a prevenção começa na contratação e se estende às rotinas operacionais. “Ignorar os riscos associados aos terceiros pode gerar não apenas sanções jurídicas, mas também danos reputacionais”.
Saúde e segurança além do RH: integração é essencial
Um bom exemplo de adequação prática às novas exigências vem do setor hospitalar. No Hospital Israelita Albert Einstein, a área de Suprimentos atua de forma conjunta com o setor de Saúde e Segurança do Trabalho. “Deixamos de ser apenas um setor de compras. Participamos da homologação de fornecedores com foco em critérios como regularidade legal, boas práticas de SST e qualidade”, afirma Bruno Lima, coordenador de compras e projetos estratégicos do hospital. “A segurança dos terceiros impacta diretamente na de nossos colaboradores e pacientes”.
Visão estratégica e diferencial competitivo
Para Bruno Santos, sócio da área de Gestão de Terceiros da consultoria Bernhoeft, referência nacional em consultoria empresarial, a atualização da NR-1 exige uma nova mentalidade. “Não é mais suficiente ter contratos bem elaborados. É preciso auditar, monitorar, orientar e integrar os fornecedores à rotina de prevenção”, afirma.
A empresa realizou no início do mês um evento, na FGV EAESP (Fundação Getulio Vargas), com o foco no debate sobre a atualização da normativa, com ênfase na inclusão dos riscos psicossociais e no fortalecimento da cultura de prevenção nas empresas brasileiras. Segundo Erlon Torres, especialista em Saúde e Segurança do Trabalho da Bernhoeft, as empresas mais maduras já encaram a segurança como um diferencial competitivo. “Redução de afastamentos, minimização de riscos jurídicos, fortalecimento da marca – tudo isso é impacto direto de uma cultura de segurança bem implementada. A nova NR-1 apenas torna esse caminho obrigatório”, resume.
Compliance e ESG: uma nova fronteira da segurança do trabalho
A atualização da NR-1 reforça que a gestão de terceiros deve estar alinhada a diretrizes mais amplas de compliance, governança e responsabilidade social. Deixar de se preparar pode significar não apenas sanções legais, mas a perda de competitividade em um mercado cada vez mais atento a critérios ambientais, sociais e de governança.
Empresas que se antecipam às exigências regulatórias não apenas evitam riscos – também demonstram compromisso real com a sustentabilidade e com a valorização da vida.