Confira artigo de Ellen Pompeu e Saulo Farto Chaves, diretores da ICTS Security
O recente caso das brasileiras Jeanne Paollini e Kátyna Baía, que ficaram presas na Alemanha por 38 dias após terem as suas malas trocadas por bagagens com droga, chocou a todos nós e, sem dúvida, comprovam que há uma quadrilha agindo no aeroporto de Guarulhos, município da Região Metropolitana de São Paulo, para enviar drogas à Europa.
No modus operandi dessa quadrilha, os funcionários da companhia aérea e de terceiros, mesmo sob a supervisão de câmeras, realizam a troca das etiquetas das bagagens e colocaram em outras malas entregues no balcão check-in fora de horário de operação.
Vale ressaltar que, além deste caso, houve mais dois episódios semelhantes. Uma brasileira, em Paris, que teve um desfecho diferente, pois integrantes da quadrilha foram presos ao tentarem pegar a mala com drogas antes dela, e um homem, em Lisboa, detido por portar malas com drogas. Neste caso, ele alega que a bagagem foi trocada, mas o caso ainda está sendo investigado.
Diante desses acontecimentos, o meio da aviação terá que tomar medidas e alterar seus protocolos para evitar ações de quadrilha. Enquanto isso não ocorre, é possível se precaver com dicas de segurança para evitar o extravio de malas em aeroportos, conforme elencamos a seguir.
- Antes da viagem – as medidas de prevenção devem iniciar no momento da arrumação da bagagem. A recomendação é utilizar uma tag, dentro e fora da mala, identificando-a com nome, endereço e contato de confiança. Filmar e fotografar a mala e seu conteúdo durante todas as etapas de arrumação e, até no momento do seu fechamento, também é prudente.
Utilizar um dispositivo de rastreamento e ativá-lo, certificando-se que ele esteja em pleno funcionamento, também aumenta a segurança durante o processo de viagem. Outro fator preventivo é personalizar a bagagem, por exemplo, utilizando cores diferentes das tradicionais, o dificulta a troca e possibilita fácil identificação. Vale também a escolha de cadeados adequados e seguros, como o modelo TSA, que evitam danos em caso de inspeções por órgãos internacionais. - No aeroporto — plastificar, filmar e fotografar a mala em todos os ângulos são medidas a serem adotadas antes do embarque. Já no check-in, é necessário registrar a pesagem da bagagem e o ticket. Além disso, é importante conferir as etiquetas e guardá-las até o destino, e todos os registros devem ser enviados para nuvem ou para uma pessoa de confiança, caso seja necessário acessálos a partir de outro dispositivo, como em caso de perda ou furto do aparelho celular.
- No país de destino – caso a mala não apareça na esteira e tenha sido extraviada, a recomendação é ir ao balcão de atendimento da companhia aérea para comunicar imediatamente o fato e registrar a ocorrência ainda no aeroporto. Outra medida preventiva é conferir a bagagem ao chegar no destino, verificando se possui algum sinal de violação. Nesse momento, é importante checar os compartimentos externos que, porventura, não estejam fechados com cadeado e podem ter sidos comprometidos com algum objeto estranho que não pertence ao viajante, como pacotes e rastreadores, entre outros.
- Incidentes – durante a fase de planejamento da viagem, recomenda-se que o viajante anote informações de contato, como telefones, e-mail e endereço do consulado ou da embaixada do Brasil responsável pelas regiões por onde vai passar. Também é importante tirar cópia de documentos, como passaporte e carteira de identidade, para o caso de substituições em decorrência de perda ou furto. É importante destacar que a perda de um documento de viagem brasileiro deve ser imediatamente comunicada às repartições consulares, que farão o seu cancelamento. Além disso, fazer um boletim de ocorrência junto às autoridades locais evitará problemas futuros com uso indevido dos documentos.
Como vimos, seguindo essas dicas, é possível que o viajante mitigue os riscos de extravios de sua bagagem. No entanto, a solução para elevar o nível de segurança nos aeroportos, onde a responsabilidade é compartilhada, é composta de múltiplos pilares, como inteligência, pessoas, processos, tecnologias e auditoria.
Nesse sentido, outra medida deve ser iniciada pelos aeroportos, analisando os riscos, as empresas terceiras, o compliance ético das pessoas envolvidas, a revisão dos processos com foco no compliance e a realização de auditorias constantes. Além disso, um fator determinante para a elevação da segurança é a aplicação de inteligência e contrainteligência e apurações e investigações de ocorrências, além do canal confidencial para denúncias, que deve ser aliado a uma campanha para estimular a sua utilização pelos colaboradores.