Além dos conflitos externos, o clima no Brasil também deve impactar produção, produtividade e custos da agricultura
Ainda é cedo para falar até quando vai o conflito entre Israel e o Hamas. No agronegócio, apesar de poucos impactos diretos, é essencial considerar os efeitos indiretos, já que a guerra teria o potencial de gerar reflexos significativos nas cotações do petróleo, commodity que exerce grande influência nos preços de fertilizantes e combustíveis, com consequências diretas nos custos de produção e transporte no Brasil.
A recente preocupação do setor produtivo tem como histórico a guerra entre Rússia e Ucrânia, que trouxe uma insegurança incalculável anteriormente no fornecimento de fertilizantes e de grãos.
“Ambas as guerras possuem pouco impacto sobre a cadeia de oleaginosas. Mas se o Irã apoiar o confronto pelo lado do Hamas, pode trazer impactos na oferta de petróleo, afetando as cadeias de combustíveis e fertilizantes”, avalia Alberto Pessina, consultor de mercado e fundador da AgroMove.
As importações do Brasil de produtos de origem israelense totalizaram USD 1,1 bilhão de janeiro a setembro deste ano, com destaque para fertilizantes, defensivos e sementes. Dentre esses produtos, pelo menos 44% do valor refere-se à importação de fertilizantes. Atualmente, Israel é um dos principais fornecedores para o Brasil.
“Israel é o segundo maior fornecedor de fosfato e o quarto de KCL e caso as tensões venham a afetar as condições de logística desta região, podemos ter problemas no fornecimento. Lembrando que o petróleo também faz parte da cadeia de nitrogenados. No curto prazo, os estoques estão elevados no Brasil, mas se estas condições piorarem e afetarem as cadeias de distribuição, podemos ter problemas à frente. Precisamos lembrar que esta tensão maior também tende a desvalorizar o real, o que melhora a competitividade de nossos produtos, mas encarece os insumos importados” , conceitua Pessina.
Além dos problemas externos, o agricultor brasileiro segue preocupado com El Niño. O fenômeno climático já tem mostrado os efeitos no campo, principalmente pela falta de chuva na maior parte do país.
“Essa estiagem ocasiona heterogeneidade no plantio e prejudica produtividade das lavouras. Há casos de necessidade de replantio, ou até mesmo de desistência, principalmente nas regiões Norte, Centro-Oeste e a parte Sul e Nordeste. Nessas localidades os produtores terão que adotar estratégias como parcelar a semeadura tentando diminuir o risco”, sugere Alberto Pessina.
Se por um lado a estiagem preocupa, o excesso de chuvas também prejudica as lavouras. As perdas excessivas pela alta umidade provocam o aumento do risco de doenças de solo, bactérias e fungos, encarecendo ainda mais os custos de produção, principalmente na região Sul. A expectativa é que esse momento melhore em dezembro.