Confira análise de Sergio Shmayev, consultor e professor dos cursos de pós-graduação da FIPECAFI
No último dia 05 o Dólar fechou em R$ 5,50, chegando a R$ 5,67 durante a semana, variação no ano de 12,4%, sendo 4,0% nos últimos 30 dias. Analistas econômicos acreditam que essa variação da moeda estrangeira poderia causar um aumento da inflação passando das projeções atuais do IPCA de 4% para 5% para 2024. Várias razões têm motivado a desvalorização do real frente à moeda americana, entre elas as falas do presidente Lula, o aumento dos gastos do governo e sua incapacidade em controlá-los, e taxas de juros elevadas no EUA. Outro ponto importante é a piora na safra deste ano em relação a 2023 e os efeitos negativos na economia do sul do país, causados pela tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul.
Internamente os gastos do governo e a dificuldade de conseguir controlar as contas públicas, geraram nos mercados uma desconfiança sobre a capacidade do governo em reverter a situação, segundo dados do Bacen, o resultado primário do setor público consolidado foi deficitário em R$ 63,9 bilhões em maio, ante déficit de R$ 50,2 bilhões no mesmo mês de 2023, com um aumento significativo na dívida líquida do setor público atingindo 62,2% do PIB. O resultado primário é a diferença entre as receitas com impostos menos as despesas do governo, desconsiderando os juros da dívida pública.
De acordo com o relatório do Tesouro Nacional, o déficit acumulado entre janeiro e maio deste ano é de R$ 30 bilhões. Com isso o mercado vê uma tendência de alta na dívida pública, uma desconfiança na capacidade do ministro da fazenda Fernando Haddad em cortar os gastos e, portanto, equilibrar o orçamento – visto que as estratégias para aumentar a arrecadação não tem gerado resultados.
Outro aspecto importante é a desconfiança na condução da Política Monetária quando o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto sair, previsto para o dia 31 de dezembro deste ano, o governo deve indicar um novo nome para substituí-lo, a preocupação do mercado é com uma nova condução das políticas monetárias que provocasse a redução das taxas de juros implicando em uma pressão inflacionária ainda maior.
Com todo esse cenário, a percepção de risco dos investidores aumenta, causando uma fuga de investimentos para ativos em dólar como forma de proteção, fazendo com que o dólar se valorize depreciando ainda mais o real. Com uma inflação acima de 2% nos EUA e, com o nível de atividade econômica em ritmo de crescimento, fica difícil o Federal Reserve (Banco Central Americano) derrubar as taxas de juros que, atualmente, estão acima dos 5,25%, havia a expectativa de uma redução para o primeiro semestre deste ano, mas isso não ocorreu.
Impacto na cadeia produtiva
Um dólar mais caro traz impacto na cadeia produtiva brasileira, visto que muitos insumos são importados, principalmente para o setor agrícola, fazendo com que esses custos sejam repassados para os consumidores. Esse impacto ainda não foi percebido pois o comércio costuma trabalhar com estoques, mas, assim que começarem a reabastecer esses estoques os aumentos serão repassados aos consumidores. Nesse sentido é possível que o impacto do aumento do dólar seja sentido a partir de julho.
Se por um lado o aumento do dólar representa para os produtores de commodities uma oportunidade, fica mais interessante exportar quando o dólar sobe, por outro lado encarece significativamente as importações, encarecendo insumos e produtos industrializados, fazendo com que a vantagem em exportar possa ser anulada pela perda de competitividade em decorrência do aumento dos custos de produção. O Brasil importou em 2023 USD 13,4 bilhões em adubos e fertilizantes (USD 2,9 bilhões foram para o Rio Grande do Sul), combustíveis minerais, lubrificantes e materiais relacionados foram importados USD 12,1 bilhões (USD 1,7 bilhões foram para o Rio Grande do Sul).
Os produtos mais exportados pelo brasil são:
- Soja 16%: sendo que 32,9% são Mato Grosso e 4,2% do Rio Grande do Sul do total
- Óleos brutos de petróleo ou minerais betuminosos 12%
- Minério de ferro e seus concentrados 8,9%
- Óleos combustíveis de petróleo 3,8%
- Carne bovina 3,7%
- Farelo de soja 3,4%: sendo que 33,9% são Mato Grosso e 7,0% do Rio Grande do Sul do total
- Açúcares e melaço 3,2%
- Milho não moído 3,2%
- Carnes de aves e miudezas 2,7%
- Demais produtos da indústria de transformação 2,7%
Os produtos mais importados pelo brasil são:
- Adubos ou fertilizantes químicos 9,7%: sendo que o Paraná representa 16% e o Rio Grande do Sul representa 15,9% do total
- Óleos combustíveis de petróleo 8,5%
- Demais produtos da indústria de transformação 4,3%
- Válvulas e tubos termiônicos 4,3%
- Compostos organo-inorgânicos 3,7%
- Óleos brutos de petróleo 3,4%
- Partes e acessórios dos veículos automotivos 2,8%
- Inseticidas 2,6%
- Medicamentos e produtos farmacêuticos 2,6%
- Equipamentos de telecomunicações 2,4%
Soluções
Há alternativas para suavizar os impactos negativos do aumento do dólar: a criação de novos mecanismos de incentivo à produção, financiamentos mais baratos para produtores, investimentos em infraestrutura (muito afetada pelas enchentes), programas de redução de custos logísticos (gastos portuários e de transporte), redução dos despesa de importação com a flexibilização do ambiente de negócios simplificando leis e reduzindo a burocracia facilitando o comércio exterior, e com isso, aumentando a competitividade dos produtores nacionais. Finalmente, o Bacen poderia utilizar os instrumentos disponíveis para suavizar as oscilações do câmbio tais como os swaps cambiais.