Por Luciana Pavan, idealizadora e fundadora do 90 Segundos de Finanças
A recente elevação das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), anunciada pelo governo federal, acendeu o alerta para o custo crescente de algumas transações, desde o cartão de crédito até a compra de dólares. Para quem gosta de viajar, é importante estar atento. Mais do que números ou percentuais, a mudança exige cautela sobre como as escolhas financeiras do dia a dia podem ser afetadas – e, principalmente, sobre como manter o equilíbrio mesmo diante de cenários menos favoráveis.
Com a nova regra, a alíquota do IOF na compra de moedas estrangeiras em espécie, que era de 1,1%, subiu para 3,5%. O mesmo percentual agora vale para compras internacionais com cartão de crédito, débito e pré-pagos, além de cheques viagem. Trata-se de um aumento significativo no custo das idas ao exterior, além do spread que continua sendo cobrado e varia de acordo com cada instituição.
O uso de contas internacionais pelos viajantes
Nos últimos anos, muitos adotaram contas internacionais como uma alternativa inteligente e segura para organizar os gastos fora do país. Com o crescimento de plataformas como Wise, Nomad e até mesmo opções oferecidas por bancos tradicionais, tornou-se possível abrir contas em moedas estrangeiras e utilizar cartões de débito nesses destinos – o que representava uma economia relevante por conta da menor incidência do imposto.
Agora, com a equiparação da alíquota do IOF para compra de moeda estrangeira, o custo dessas contas está no mesmo patamar. Mas isso não significa que tudo está perdido. A lógica de organização e planejamento continua válida – e, em tempos de reajustes, torna-se ainda mais necessária. É importante salientar que os saldos existentes não sofrem nenhuma mudança. A nova taxa incide para as compras de moeda feitas a partir da nova regra.
O que a abordagem da economia comportamental tem a nos dizer
Apesar do novo custo, manter o hábito de utilizar contas internacionais pode continuar sendo uma escolha vantajosa, especialmente do ponto de vista comportamental. O uso do cartão de débito atrelado a essas contas traz dois grandes benefícios: ter um limite de gastos saudável para o seu orçamento e visualizar de forma rápida o quanto do seu limite já foi consumido durante a viagem. A previsibilidade e o controle direto dos valores ajudam a evitar deslizes e arrependimentos ao final da jornada.
Por outro lado, os cartões de crédito emitidos no Brasil, ainda que tenham passado a ter o mesmo IOF, trazem consigo um risco maior: a falsa sensação de poder de compra, alimentada por limites altos e pela postergação do pagamento. Em contextos de viagem repletos de novidades e de estímulo ao consumo, usar esse meio de pagamento pode comprometer o orçamento e fazer com que o sonho realizado vire um pesadelo de uma dívida.
A mudança na alíquota do IOF é um lembrete importante: mesmo quando não é possível controlar o ambiente econômico, é possível ajustar o próprio comportamento. Reavaliar decisões, repensar prioridades e manter os princípios de educação financeira em prática são caminhos para preservar não apenas o bolso, mas também a tranquilidade.
Viajar continua sendo um objetivo legítimo para quem adora pegar uma mochila e encarar um novo destino. E os sonhos merecem planejamento, não impulsividade. As ferramentas podem mudar, os impostos podem subir, mas a consciência sobre o uso do dinheiro permanece como o principal aliado para transformar projetos em realidade.