Voltado para investidores estrangeiros, evento realizado no Hotel Unique, em São Paulo promoveu debates com foco em temas como inovação, regulação e as tendências da indústria
A B3, a bolsa do Brasil, realizou a 6ª edição da B3 Week, um evento de imersão no mercado de capitais para engajar investidores estrangeiros em todo o ecossistema brasileiro. Realizado em São Paulo, o encontro reúne os principais nomes do mercado nacional e internacional para debater temas como inovação, regulação e as novas tendências da indústria.
O evento foi aberto por Gilson Finkelsztain, CEO da B3. “A B3 Week reforça nosso compromisso de ser a infraestrutura que impulsiona o crescimento do Brasil. Ao promover um diálogo de alto nível sobre os rumos da nossa indústria, criamos um ambiente fértil para a inovação e para o desenvolvimento de um mercado de capitais cada vez mais forte, transparente e competitivo no cenário global”, declarou o Presidente da Bolsa do Brasil.
Na sequência, o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Otto Lobo, destacou a forte cooperação institucional entre CVM, B3 e o Ministério da Fazenda como pilar para a modernização do mercado. Ele apresentou os três princípios que guiam a atuação da autarquia: a previsibilidade regulatória para fortalecer a confiança; a supervisão baseada em evidências e dados; e a inovação responsável, com uma postura de neutralidade tecnológica.
Em seguida, Marcos Pinto, Secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, apresentou um panorama da economia e detalhou a agenda de reformas do governo para o mercado de capitais. O secretário destacou o bom momento da economia real, inflação controlada e o menor nível de desemprego já registrado. Embora tenha reconhecido os desafios fiscais, como a alta taxa de juros, ele ressaltou o compromisso do governo em zerar o déficit primário, com reformas focadas tanto na arrecadação quanto no controle de gastos.
Painéis temáticos: inovação, regulação e as tendências em pauta
Um dos destaques da agenda dia foi o painel “Estratégias de Negociação”, moderado por Luiz Masagão, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3, com a presença de executivos do Itaú BBA, Legacy Capital e Optiver. O debate abordou o atual momento do mercado brasileiro, que reflete o ambiente global favorável, mas a um custo elevado. “O Brasil tem que pagar uma taxa [de juros] muito alta para participar desta festa e ser capaz de atrair capital”, afirmou Felipe Guerra, sócio-fundador e CIO da Legacy Capital. Ricardo Nuno, diretor de Trading do Itaú BBA, complementou, apontando a vulnerabilidade da estratégia de financiamento do déficit externo via carry trade.
Outro encontro relevante do dia debateu o futuro da renda fixa no Brasil, com moderação de Cláudia Bortoletto, diretora de renda fixa da B3, e a participação de executivos da BRAM, Jump Trading e Santander. Os especialistas apontaram o desafio de modernizar a negociação de títulos públicos, migrando de um modelo de balcão para um ambiente totalmente eletrônico. Apesar de um volume diário que alcança R$ 100 bilhões, apenas 15% é feito em plataformas eletrônicas. Do ponto de vista internacional, Faiz Mitta (Jump Trading) ressaltou que as altas taxas de juros tornam o mercado brasileiro uma “proposição muito atrativa”, mas que para destravar o fluxo de capital estrangeiro é preciso resolver barreiras de acesso. “Se você conseguir resolver a eficiência de acesso, liquidez e infraestrutura (…) é um sinal verde para o investidor”, disse. A consolidação da negociação em um ambiente único, com a segurança de uma contraparte central (CCP), foi apontada como o caminho para um mercado mais líquido e eficiente.
Encerrando os debates, o painel sobre a jornada do investidor de varejo, moderado por Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes, Educação e Pessoa Física da B3, discutiu os caminhos para ampliar o número de pessoas físicas no mercado de capitais brasileiro. Com a participação de executivos da BOX1824, Interactive Brokers, Empiricus e Citadel Securities, a conversa destacou a necessidade de empoderar o investidor por meio da educação financeira e da construção de uma relação de confiança. Felipe Miranda, CEO da Empiricus, se mostrou otimista com o potencial de atração da bolsa para o varejo, citando o iminente ciclo de corte de juros no Brasil e o momento de alta do mercado, que tende a gerar um “medo de ficar de fora” (FOMO). A visão dos executivos internacionais focou em tendências, como a contínua democratização do acesso aos investimentos e o crescente interesse em produtos, como opções e criptoativos.
Além dos painéis temáticos, o evento ainda contou com dois bate-papos conduzidos por executivos da XP, que falaram sobre cenário brasileiro e tecnologia de negociação na era da inteligência artificial (IA).