O Bitcoin ultrapassou a marca dos US$ 123 mil neste mês de julho, atingindo o maior valor da história desde sua criação, em 2009. O movimento foi impulsionado por uma combinação rara: regulação favorável nos Estados Unidos, entrada massiva de capital institucional via ETFs, e o fortalecimento da percepção do criptoativo como reserva de valor.
No Brasil, o tema divide opiniões, mas especialistas apontam que o atual rali do BTC difere dos anteriores por um detalhe fundamental: o amadurecimento do ecossistema. E é nesse ponto que entra a visão do contador e consultor financeiro André Charone, que é autor do best seller “A Verdade Sobre o Dinheiro” e acompanha de perto o impacto das inovações digitais sobre os mercados tradicionais.
O que explica o novo recorde?
Especialistas apontam três pilares centrais que explicam a recente escalada do preço do BTC:
- Adoção institucional: Grandes gestoras como BlackRock, Fidelity e Ark Invest intensificaram aportes em ETFs de Bitcoin. Só em 2025, os fundos já captaram cerca de US$ 14,8 bilhões.
- Semana Cripto no Congresso dos EUA: A chamada Crypto Week, que debate projetos como o Clarity Act e o Anti-CBDC Act, reacendeu a confiança dos investidores na regulamentação clara e favorável ao setor.
- Reserva Estratégica de Bitcoin criada pelo governo americano: Em março, uma ordem executiva oficializou a criação de uma reserva nacional de BTC nos EUA, reforçando a tese de que o ativo digital será cada vez mais reconhecido como estratégico no cenário global.
“Não estamos mais falando de um ativo marginal”, diz especialista
Para André Charone, o que está acontecendo agora não é uma euforia especulativa, como nos ciclos anteriores. Trata-se de uma nova fase do Bitcoin.
“O Bitcoin deixou de ser aquele ativo marginalizado, desacreditado, movido a memes de internet. Hoje, é uma ferramenta estratégica usada por grandes fundos e, inclusive, por governos. É o sistema financeiro tradicional que agora precisa correr atrás”, explica.
Segundo o consultor financeiro, o principal diferencial deste ciclo é a infraestrutura institucional robusta que se formou em torno do ativo:
“A entrada dos ETFs, com auditoria, custódia segura e transparência, é o que deu o selo de maturidade ao Bitcoin. Isso atraiu o investidor conservador, que antes sequer considerava criptos”, analisa.
“Desta vez, temos lastro. Os aportes vêm de investidores institucionais, e não de pequenos especuladores. A entrada de ETFs spot e o avanço regulatório nos Estados Unidos mostram que o mercado está amadurecendo. Essa valorização não é apenas uma bolha de euforia: há fundamentos sólidos por trás”, avalia Charone.
Segundo ele, embora o cenário ainda seja volátil, o Bitcoin começa a se consolidar como um ativo alternativo de longo prazo, principalmente em momentos de incerteza monetária e instabilidade geopolítica.
O papel das criptos na proteção de patrimônio
Charone também vê o Bitcoin ganhando força como uma estratégia de proteção patrimonial de longo prazo, sobretudo entre famílias empresárias e investidores de alta renda:
“Com a instabilidade política e fiscal que vivemos na América Latina, ativos como o Bitcoin começam a ser usados como reserva global. Não é só sobre valorização, é sobre ter uma parte do patrimônio fora do sistema bancário tradicional.”
Ele aponta que muitos brasileiros já utilizam criptoativos para diversificar riscos cambiais e blindar parte de seus recursos frente a políticas fiscais imprevisíveis:
“A lógica é simples: quem tem patrimônio não quer depender do humor do governo de plantão. O Bitcoin é a versão moderna do ouro”, compara.
Riscos seguem no radar
Apesar do otimismo, analistas alertam que a volatilidade característica do Bitcoin permanece. “Não é porque rompeu um recorde que está livre de correções”, afirma Charone. “Os investidores precisam ter consciência de que se trata de um ativo de risco. O mesmo mercado que sobe 30% em um mês pode cair 20% em uma semana”, completa.
Além disso, a discussão regulatória ainda é incerta. Há dúvidas sobre como outros países, como o Brasil e membros da União Europeia, vão responder ao novo ciclo de valorização das criptomoedas, especialmente no que diz respeito à tributação e rastreabilidade das operações.
E o Brasil?
No Brasil, os ETFs de cripto seguem avançando, mas em ritmo mais lento. A CVM tem adotado postura cautelosa, exigindo cada vez mais transparência dos produtos e reforçando a necessidade de educação financeira para investidores que desejam ingressar no setor.
Para Charone, a principal barreira no Brasil ainda é a insegurança jurídica. “A Receita Federal já exige declaração das criptomoedas, mas o marco regulatório ainda é fragmentado. Isso afasta grandes investidores e limita a expansão dos produtos financeiros ligados ao mercado cripto”, conclui.
De “rebelde” a ativo estratégico
O novo recorde do Bitcoin simboliza mais do que uma valorização pontual: representa um momento de virada para o ativo digital mais famoso do mundo. Com o respaldo institucional e o avanço regulatório, o Bitcoin dá sinais de que pode deixar de ser um ativo de nicho para se tornar, de fato, um componente legítimo e estruturado das carteiras de investimento, inclusive no Brasil.
Ainda é cedo para dizer até onde o BTC pode ir. Mas uma coisa é certa: o ativo, que já foi tratado como uma “moda passageira”, hoje ocupa as manchetes dos maiores portais financeiros do mundo. E, ao que tudo indica, não vai sair tão cedo.