Pela 13ª semana consecutiva, o mercado financeiro reduziu a expectativa da inflação para 2022 e 2023 e elevou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, de acordo com dados do último Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira (26). A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o fim deste ano caiu de 6% para 5,88% e a previsão para 2023 diminuiu de 5,01% para 5%.
Em agosto, o IPCA teve o segundo mês consecutivo de queda, com baixa de 0,36%. Em julho, a deflação havia sido de 0,68%. O PIB, por outro lado, teve a projeção de alta aumentada, passando de 2,65% para 2,67% neste ano. Para 2023, foi mantida em 0,50%.
“Isso [a redução] é importante pois a inflação começa a aproximar-se da meta estabelecida mesmo que não seja o centro da meta. Representa um ganho positivo contra a incerteza da economia, com a valorização do poder de compra das famílias, dando a possibilidade delas poderem planejar seu futuro com a valorização do seu poder de compra”, avalia Alessandro Azzoni, advogado, economista e conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Mesmo com a perspectiva positiva, o advogado e economista alerta para interferências internacionais. “Acredito que a tendência de queda ainda permaneça e a redução dos preços dos combustíveis atingindo diesel deverá impactar na redução dos preços dos produtos, alimentos e serviços, acentuando ainda mais a queda da inflação. Mas como a economia depende sempre de vários fatores, temos que ficar atentos ao mercado externo, pois a guerra da Ucrânia e Rússia ainda impacta as economias globais e o cenário interno das eleições”, conclui.
Para o doutor em economia e professor da Universidade Mackenzie, Hugo Garbe, recentes medidas do governo federal tiveram impacto direto na deflação brasileira. “Os fatores que levam à previsão da redução da inflação são que, primeiro, houve redução significativa de impostos dos principais produtos que compõem a inflação, por exemplo, ICMS dos combustíveis. Outro ponto importante é a taxa de juros. O Banco Central do Brasil foi o primeiro a subir a taxa, ainda em meados da pandemia. Quando tem politica monetaria contracionista, reduz o ímpeto de consumo e tomada de crédito”, opina.
Histórico
Desde 1999, o Brasil adota o regime de metas inflacionárias, onde fica estabelecido o desvio de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo do foco da inflação a ser alcançada. Esse foco é sempre o IPCA. Em 2022, o Conselho Monetário Nacional fixou a meta para o índice em 3,5%. Aplicando o desvio, a inflação poderia ficar entre 2% e 5% e, para isso, o Banco Central utiliza de ferramentas monetárias para manter essa meta. Uma das mais utilizadas é o aumento na taxa básica de juros, a Selic.
O IPCA tem um espectro maior e analisa o poder de compra das famílias com renda até 40 salários mínimos em todo o território nacional, diferentemente do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) que leva em conta o poder de compra das famílias até cinco salários mínimos. Com isso, o Banco Central pode definir o viés de alta ou de baixa da taxa básica de juros, a fim de trazer a inflação para o centro da meta.