Confira análise de Álvaro Bandeira, coordenador macro da Comissão de Economia da APIMEC Brasil
A semana começa com os mercados globais atentos a uma combinação de fatores políticos e econômicos que prometem influenciar a precificação dos ativos nos próximos dias. A avaliação é de Álvaro Bandeira, coordenador macro da Comissão de Economia da APIMEC Brasil, que destaca o otimismo recente da Bovespa, apesar das tensões no cenário internacional.
Na última semana, o índice Bovespa acumulou uma valorização expressiva de 3,93%, encerrando a sexta-feira aos 134.739 pontos — seu melhor desempenho semanal em um ano e meio. Paralelamente, o dólar registrou queda de 2%, cotado a R$ 5,69, após seis sessões consecutivas de desvalorização frente ao real.
O bom humor do mercado brasileiro foi atribuído à redução da aversão ao risco e a declarações consideradas mais suaves por parte de dirigentes do Banco Central. No exterior, os principais índices americanos também tiveram uma semana positiva: o Dow Jones subiu 2,48% e o Nasdaq avançou impressionantes 6,73% em apenas quatro pregões.
Instabilidade política ainda pesa
Apesar do ambiente favorável, Bandeira alerta que o contexto político internacional segue carregado de incertezas. A postura errática de Donald Trump, que recentemente sinalizou possíveis mudanças em sua estratégia geopolítica, continua desorientando os mercados globais. A guerra entre Rússia e Ucrânia, ainda sem solução à vista, também contribui para a volatilidade dos ativos de risco.
Nos Estados Unidos, os sinais contraditórios sobre as relações comerciais com a China ampliam a cautela dos investidores. Segundo Bandeira, o movimento de união de países asiáticos contra o protecionismo norte-americano e o interesse renovado da China por ativos brasileiros são pontos que merecem atenção nas próximas semanas.
Enquanto isso, o mercado canadense acompanha com expectativa as eleições para a formação de um novo governo, com Mark Carney despontando como possível novo primeiro-ministro, o que pode ter reflexos no ambiente econômico regional.
Mercado doméstico atento à política e à balança comercial
No Brasil, o ambiente político interno também gera incertezas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou auxiliares para discutir o futuro do ministro da Previdência, Carlos Lupi, após o escândalo envolvendo um desvio bilionário de recursos de aposentados.
Na agenda econômica, os destaques desta segunda-feira são a divulgação da Confiança da Indústria de abril, a atualização do Boletim Focus do Banco Central e a nota do setor externo referente a março. O saldo da balança comercial da semana anterior também será acompanhado de perto pelos investidores.
A expectativa para o pregão de hoje é de alta na Bovespa, com o dólar apresentando movimentação de fortalecimento e poucas oscilações nos juros.
Abertura internacional: sinais mistos
No exterior, as bolsas europeias operam em território positivo. Londres avançava 0,35%, Paris subia 0,72% e Frankfurt registrava alta de 0,62% no início da manhã. Nos Estados Unidos, os índices futuros mostravam leve queda: o Dow Jones recuava 0,04% e o Nasdaq, 0,15%.
No mercado de commodities, o petróleo tipo Brent era negociado a US$ 66,78 o barril, com leve queda de 0,13%. Já as commodities agrícolas iniciavam o dia em baixa.
Caminho para novos recordes
Com o Ibovespa aproximando-se dos 137.400 pontos — marca histórica —, Álvaro Bandeira destaca que uma eventual quebra desse patamar depende diretamente de uma acomodação nos mercados globais e de sinais mais claros de estabilidade política interna e externa.
“Seguimos em contagem para buscar o recorde, mas o ambiente ainda é desafiador”, resume o economista.
O cenário, portanto, é de otimismo cauteloso: embora a tendência de alta seja consistente, a volatilidade internacional e os riscos domésticos exigem atenção redobrada dos investidores ao longo da semana.
