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Brasil, China e CELAC: a aliança que redesenha o futuro da América Latina

Foto por: Greg Rosenke/ Unsplash Images
Foto por: Greg Rosenke/ Unsplash Images

Confira artigo de Thomas Law e Víctor Gabriel Rodríguez

A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) vive, em 2025, um dos momentos mais relevantes desde sua criação. Na cúpula realizada em maio, que reuniu 33 países, o bloco consolidou seu protagonismo ao fortalecer a integração regional e ampliar sua influência no cenário internacional.

Um dos marcos desse encontro foi a adesão de Colômbia e Chile à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), liderada pela China. Este movimento representa muito mais que um acordo econômico: é um reposicionamento estratégico da América Latina nas cadeias globais de valor, aproximando a região do eixo econômico asiático por meio de investimentos robustos em infraestrutura, logística e tecnologia.

A inauguração do Porto de Chancay, no Peru, sintetiza esse novo momento. Trata-se de um hub logístico capaz de reduzir significativamente custos e tempo de transporte entre a América do Sul e a China. Dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostram que os projetos vinculados ao BRI na região já superam US$ 25 bilhões, transformando a conectividade intercontinental em realidade.

O Brasil, por sua vez, retoma seu protagonismo regional e global. Na CELAC, liderou articulações pela integração econômica e institucional da região. Além disso, sediará em 2025 dois eventos centrais para a geopolítica internacional: a cúpula dos BRICS, no Rio de Janeiro, e a COP30, em Belém do Pará. Ambos reforçam o papel do Brasil na transição energética, na sustentabilidade e na construção de uma nova ordem econômica multipolar.

A relação Brasil-China se fortalece e evolui. Após celebrarem 50 anos de relações diplomáticas em 2024, os países consolidaram uma agenda robusta voltada para a neoindustrialização, segurança alimentar, mobilidade sustentável e inovação tecnológica. A visita do presidente Lula a Pequim, em maio de 2025, não deixou dúvidas de que essa parceria é estratégica e de longo prazo.

O Brasil busca agora ir além das commodities. Empresas chinesas como BYD, com fábrica de veículos elétricos na Bahia; GWM, operando em Iracemápolis (SP); e GAC Motors, que anunciou uma nova unidade em Goiás, simbolizam essa transformação. São projetos que trazem tecnologia, criam empregos e consolidam o país como polo regional na indústria verde e na mobilidade elétrica.

Apesar da diversificação, o agronegócio segue como pilar essencial. Segundo o Ministério da Agricultura, 25% de tudo que a China importa do setor agrícola vem do Brasil. A demanda crescente por produtos como soja, milho, carne, açúcar, café, gergelim e frutas não só fortalece a balança comercial, como também evidencia os desafios desse novo cenário.

O crescimento acelerado do consumo de café na China — hoje ultrapassando 300 milhões de consumidores, segundo a Associação da Indústria de Café da China — reflete bem esse fenômeno. Se, por um lado, impulsiona as exportações brasileiras, por outro, pode gerar pressão sobre os preços internos, ilustrando os efeitos colaterais da integração global.

A atual guerra tarifária entre Estados Unidos e China abre uma janela de oportunidade para a América Latina. A região se posiciona como fornecedora estratégica de alimentos, energia, biocombustíveis e até produtos industrializados, desde que supere seus tradicionais gargalos logísticos e institucionais.

Mas o maior desafio não é apenas físico, é jurídico. A falta de marcos regulatórios comuns, de segurança normativa e de mecanismos eficientes de resolução de disputas trava investimentos, eleva riscos e reduz competitividade. Relatório recente da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) alerta que essa fragilidade custa, em média, 1,5% do PIB da região anualmente.

Diante disso, o Brasil propôs, na cúpula da CELAC, a criação de um Observatório Jurídico da Integração Regional. A proposta visa harmonizar normas, proteger investimentos, criar padrões ambientais comuns e construir sistemas de arbitragem eficientes, com uso de inteligência artificial e processos digitalizados para reduzir custos e acelerar soluções de litígios.

A CELAC em 2025 representa muito mais que um espaço diplomático. O fortalecimento dos laços com a China, a adesão de Chile e Colômbia ao BRI e o protagonismo renovado do Brasil apontam para um caminho claro e incontornável: sem integração jurídica, sem estabilidade normativa e sem segurança institucional, não há desenvolvimento sustentável possível.

A integração regional deixou de ser um ideal. Tornou-se uma necessidade estratégica, vital para que a América Latina transforme seu potencial em prosperidade, inovação, crescimento e, sobretudo, protagonismo no século XXI.

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