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Brasil lidera ranking global de transtornos de ansiedade: quando a preocupação se torna doença

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Photo by Pablo Pacheco on Unsplash

País tem a maior taxa de pessoas com ansiedade no mundo, segundo a OMS. O médico Thyago Henrique, especialista em saúde mental, explica os sinais que diferenciam a ansiedade cotidiana dos quadros clínicos e os caminhos para tratamento

Sentir ansiedade antes de uma entrevista de emprego, de uma prova ou de uma conversa importante faz parte da vida. Mas quando esse estado de alerta se transforma em um sofrimento constante e desproporcional, interferindo no sono, nas relações ou no trabalho, é sinal de que algo vai além da preocupação comum. Essa é a realidade de milhões de brasileiros: de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking global de transtornos de ansiedade, com cerca de 9,3% da população diagnosticada, mais que o dobro da média mundial.

Estudo publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria, com dados de base populacional do Ministério da Saúde, estima que 27,4% dos adultos brasileiros apresentem algum tipo de transtorno ansioso ao longo da vida. A prevalência é maior entre mulheres (32,5%) e jovens adultos — o que reforça a urgência de debater o tema de forma clara e acessível à população.

“A ansiedade em si não é um problema. Todos nós sentimos ansiedade, afinal, é um mecanismo de sobrevivência, uma forma do nosso corpo nos preparar para o futuro”, explica o medico especialista em saúde mental pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Thyago Henrique. “O problema é quando essa ansiedade se torna desproporcional à situação, causa sofrimento e atrapalha o funcionamento da vida cotidiana. Aí, já estamos falando de transtorno de ansiedade.”

Segundo o especialista, a linha entre ansiedade comum e patológica é delimitada pela disfunção: quando a pessoa começa a evitar situações, sofre sintomas físicos recorrentes ou perde a capacidade de se concentrar no presente. “A ansiedade patológica paralisa. A pessoa deixa de viver o agora porque está constantemente presa ao que pode dar errado no futuro”, afirma o psiquiatra.

Os transtornos de ansiedade se apresentam de diferentes formas: desde o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) — caracterizado por uma preocupação crônica e excessiva — até quadros de fobia social e transtorno do pânico. Dados da Universidade de São Paulo (USP), em estudo publicado na Revista de Psiquiatria Clínica, apontam que até 28% dos brasileiros nas grandes cidades já enfrentaram algum tipo de transtorno de ansiedade ao longo da vida.

“O que agrava ainda mais é que os sintomas são muitas vezes confundidos com outros transtornos, como depressão ou TDAH”, alerta o Dr. Thyago. “A dificuldade de concentração, por exemplo, aparece tanto na ansiedade quanto em outros quadros, e o uso de medicamentos inadequados pode piorar o estado do paciente. Por isso, é essencial um diagnóstico preciso.”

Estilo de vida e redes sociais impulsionam casos

Nos últimos anos, o ritmo de vida acelerado, o excesso de estímulos e o uso contínuo de redes sociais têm contribuído para o aumento dos casos. “Essa hiperconexão provocou alterações neurobiológicas, modificando áreas do cérebro responsáveis por regular a ansiedade”, explica Dr. Thyago Henrique. Ele destaca que o fenômeno não é apenas comportamental, mas fisiológico, e que os jovens são os mais vulneráveis, especialmente após a pandemia.

A afirmação é corroborada por estudos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que apontam um aumento expressivo de sintomas ansiosos em adolescentes e jovens adultos durante o período de isolamento social. O uso excessivo de telas, a comparação constante nas redes sociais e a incerteza sobre o futuro formam um cenário fértil para o agravamento dos quadros.

Apesar da prevalência elevada, os transtornos de ansiedade têm tratamento — e quanto mais cedo for iniciado, melhores os resultados. A combinação entre psicoterapia (especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental – TCC) e medicação, quando necessária, é considerada a abordagem mais eficaz. “A TCC ajuda o paciente a identificar e modificar os padrões de pensamento distorcidos que alimentam a ansiedade. A medicação, por sua vez, estabiliza os sintomas e permite que a pessoa volte a funcionar no dia a dia”, detalha o médico.

Mas os cuidados não param por aí. Mudanças no estilo de vida também são indispensáveis. “Exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada, meditação, técnicas de respiração diafragmática e sono de qualidade são pilares do tratamento. Em casos leves, só essas medidas e a terapia podem ser suficientes para evitar a cronificação do transtorno”, afirma.

Ansiedade tem cura?

Para o Dr. Thyago Henrique, a resposta depende do caso. “Podemos não falar exatamente em cura em todos os casos, mas sim em controle. E esse controle pode devolver à pessoa sua qualidade de vida, sua produtividade e sua capacidade de viver o presente, que é, afinal, onde a vida acontece.”

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