Especialista em saúde ocupacional, dá dicas de como empresas podem minimizar esse cenário
A CID (Classificação Internacional de Doenças) classificou a síndrome de Burnout, caracterizada por esgotamento físico e mental no ambiente de trabalho, como doença ocupacional em 2025. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (6) pelo próprio órgão.
Agora, os funcionários brasileiros poderão ser diagnosticados com o código QD85. A mudança pode trazer mais transparência no tratamento da doença, que, desde 2022, é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A síndrome de Burnout afeta milhões de pessoas em todo o mundo e, no Brasil, tem apresentado crescimento constante. Segundo um levantamento do INSS, a porcentagem de afastamentos de trabalho por conta de Burnout subiu 1.000% em 9 anos. Só em 2023, 421 pessoas foram afastadas, contra 41 em 2014.
Caracterizada por sintomas como exaustão, sensação de incompetência e despersonalização, a condição pode comprometer tanto a saúde do trabalhador quanto sua produtividade. No entanto, medidas preventivas podem ser adotadas para evitar o desenvolvimento desse quadro.
Uma das principais recomendações é estabelecer limites claros entre a vida profissional e pessoal. Reservar momentos para lazer, prática de exercícios físicos e descanso adequado é essencial para preservar o equilíbrio mental. Além disso, adotar uma rotina organizada, priorizando tarefas e evitando a sobrecarga, ajuda a reduzir o estresse no dia a dia.
O doutor Marco Aurélio Bussacarini, especialista em Medicina Ocupacional pela USP e CEO fundador da Aventus Ocupacional — empresa que realiza gestão em saúde e segurança ocupacional — explica que a tecnologia é uma das responsáveis pela deterioração da saúde mental: “Os trabalhadores são suscetíveis a problemas de saúde mental em praticamente todos os espaços sociais que frequentam por causa da combinação de um mercado altamente competitivo, uma economia ruim, a constante comparação nas redes sociais, a falta de uma separação clara entre vida pessoal e profissional e, em alguns casos, até mesmo a dificuldade de se relacionar. Tudo isso, misturado, gera aumento da ansiedade, do estresse e uma pressão constante por desempenho”, argumenta.
Quais os sinais de alerta para questões mentais no trabalho?
Diversas situações podem estar relacionadas a questões mentais no trabalho, como assédio moral ou sexual, falta de reconhecimento de um bom trabalho e desrespeito no ambiente profissional, que podem acarretar Burnout.
Nesse sentido, o doutor Marco Aurélio Bussacarini sinaliza que um ou mais dos seguintes sintomas podem aparecer em quem está sofrendo de Burnout:
- Cansaço contínuo, físico e mental;
- Distanciamento do trabalho e das relações sociais;
- Irritabilidade;
- Dores de cabeça e no corpo;
- Baixa autoestima;
- Pensamentos negativos constantes;
- Desmotivação.
“Estes são sintomas associados ao Burnout, mas que podem estar correlacionados a outras questões que levam à piora da saúde mental. Um profissional que sofre com sobrecarga no trabalho ou que tem incertezas financeiras sobre o futuro pode acabar desenvolvendo problemas psíquicos e psiquiátricos”, acrescenta Bussacarini.
O especialista ressalta que todos esses sinais devem servir de alerta para que familiares e amigos intervenham e ajudem na busca por cuidados profissionais. Ele lembra que, quanto mais cedo uma doença é descoberta, mais rápido ela tende a ser tratada.
Como as empresas podem melhorar a saúde mental dos colaboradores
Empresas que investem em iniciativas como pausas regulares, práticas de bem-estar e acesso a apoio psicológico contribuem diretamente para a saúde mental de seus colaboradores. Segundo o Dr. Marco, as empresas também devem promover transformações no ambiente de trabalho, especialmente para os trabalhadores mais jovens. “De maneira pejorativa, alguns dizem que as pessoas que estão entrando no mercado de trabalho são sensíveis no ambiente corporativo ou que ‘não gostam de trabalhar’. Na verdade, os funcionários mais jovens, principalmente da geração Z, encaram o trabalho de forma diferente e pensam que a atuação profissional serve como uma ferramenta de transformação social e do mundo, e não apenas um meio de acumular riqueza”, afirma o doutor Marco Aurélio Bussacarini.
Para atender às expectativas de flexibilidade e transparência dos mais jovens, as empresas precisam implementar programas e ações claras com foco na saúde emocional de seus colaboradores.
O especialista em Medicina Ocupacional destaca que as companhias devem adotar políticas de horário de trabalho e período de descanso, estabelecer uma cultura de feedback e reconhecimento, combater a cultura de produtividade excessiva e tóxica e promover a diversidade e inclusão.
“Também é essencial que as empresas tenham programas bem estruturados que ofereçam apoio à saúde mental, incluindo planos de saúde, workshops e debates sobre a importância da terapia e sessões de acolhimento”, enfatiza.
Estratégias para melhorar a saúde mental no ambiente de trabalho
Para apoiar gestores na promoção de um ambiente mais saudável, o Dr. Marco apresenta as seguintes estratégias de prevenção para combater a deterioração da saúde mental dos colaboradores:
- Treinar lideranças e gestores para reconhecer sinais de alerta de saúde mental;
- Criar um ambiente de suporte, desenvolvendo uma cultura organizacional que promova abertura e aceitação de discussões sobre saúde mental;
- Oferecer acesso a serviços de saúde mental, como terapia e aconselhamento, por meio de Programas de Assistência ao Empregado (PAE);
- Promover atividades de redução de estresse, como meditação, yoga e ginástica laboral;
- Incluir o apoio psicológico nos planos de resposta a crises;
- Criar e distribuir materiais informativos sobre saúde mental em e-mails, redes sociais e murais;
- Oferecer treinamento em primeiros socorros psicológicos;
- Criar espaços seguros para conversas abertas sobre saúde mental, sem julgamento;
- Implementar pausas no trabalho e dias de folga para preservar a saúde mental;
- Incentivar estilos de vida saudáveis por meio de desafios de bem-estar, seminários sobre nutrição e atividades físicas.