Com 704 mil novos casos estimados para 2025 e perspectivas de 70% de aumento na incidência nos próximos anos, o país se apoia em terapias de ponta e inovação científica para reescrever a luta contra a doença
Em meio a projeções preocupantes sobre o aumento global de casos de câncer, especialistas apontam que os avanços tecnológicos e novas modalidades de tratamento oferecem perspectivas promissoras para o enfrentamento da doença nos próximos anos. Segundo dados recentes do Globocan 2022 e um estudo publicado no Journal of American Medical Association (JAMA) no final de 2024, a incidência global deve crescer 76% até 2050, atingindo 35,3 milhões de pessoas.
“Estamos diante de um cenário desafiador que exige atenção redobrada da comunidade médica e científica. O aumento projetado não é apenas em números absolutos, mas também em complexidade dos casos”, afirma Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas&Co e presidente do Instituto Oncoclínicas.
A disparidade no impacto da doença entre diferentes regiões é um dos pontos mais alarmantes. Países com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) devem enfrentar um aumento de 140% nos casos e óbitos, enquanto nações mais desenvolvidas projetam crescimento de 41,7%. A mortalidade global pode saltar de 9,7 milhões em 2022 para 18,5 milhões em 2050.
“O acesso desigual a recursos e tratamentos avançados continua sendo um dos maiores obstáculos a serem superados”, destaca. “Enquanto vemos avanços impressionantes em terapias personalizadas e tratamentos de precisão, é fundamental intensificar os esforços para que essas inovações alcancem um número cada vez maior de pacientes”.
Entre as evoluções mais promissoras, destacam-se as novas modalidades de imunoterapia, incluindo anticorpos conjugados a drogas e vacinas terapêuticas com tecnologia mRNA. A terapia celular CAR-T, já aprovada para cânceres hematológicos, apresenta resultados animadores e estudos em andamento para tumores sólidos.
No Brasil, o cenário reflete particularidades próprias. O câncer de mama lidera em incidência, com aproximadamente 74 mil novos casos por ano, seguido pelo câncer de próstata, com 72 mil. “Temos observado resultados muito positivos no tratamento do câncer de mama, com possibilidade de resposta patológica completa antes mesmo da cirurgia em alguns casos, graças às terapias direcionadas”, explica Ferreira.
Um dado preocupante é o aumento de casos entre jovens, sendo o câncer a principal causa de morte não-externa em pessoas até 29 anos. “É fundamental adaptar nossos protocolos e criar centros especializados para atender às necessidades específicas desse grupo, considerando as diferenças biológicas da doença nessa faixa etária”, ressalta.
A medicina personalizada emerge como o futuro do tratamento oncológico. Dados do relatório Global Oncology Trends 2022 da IQVIA mostram que 43% das drogas oncológicas aprovadas entre 1998 e 2022 são terapias de precisão, baseadas na análise genética específica dos tumores. “Houve um aumento significativo nas aprovações de terapias oncológicas direcionadas, impulsionadas por avanços na análise genética dos tumores. Essas terapias de precisão representam uma proporção substancial dos tratamentos aprovados nesse período, refletindo a crescente importância da medicina personalizada no combate ao câncer. Cada vez mais, conseguimos oferecer intervenções direcionadas, aumentando a eficácia e reduzindo efeitos colaterais”.
Apesar dos desafios, o horizonte apresenta perspectivas animadoras. “O desenvolvimento constante de novas modalidades terapêuticas, aliado ao diagnóstico precoce e à medicina personalizada, nos permite ser cautelosamente otimistas quanto ao futuro do tratamento do câncer. O desafio agora é garantir que esses avanços cheguem a todos que precisam, independentemente de sua localização geográfica ou condição socioeconômica”.
Mapa do câncer no Brasil: entre avanços e desafios
Com 704 mil novos casos projetados para 2025, o câncer no Brasil representa um cenário desafiador, mas também repleto de possibilidades, graças aos avanços tecnológicos e à crescente adoção da medicina personalizada. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), os seis tipos mais incidentes — excluindo o câncer de pele não melanoma — são câncer de mama, próstata, colorretal, pulmão, hematológicos e estômago. Cada um deles apresenta características únicas, exigindo estratégias terapêuticas específicas e individualizadas.
“O enfrentamento do câncer no país reflete o avanço da ciência e a importância da detecção precoce. O futuro do tratamento está na medicina personalizada, que combina inovações tecnológicas com abordagens centradas no paciente. Apesar dos desafios, os avanços contínuos oferecem novas esperanças, reafirmando que a luta contra o câncer é uma jornada coletiva de ciência, cuidado e transformação”, conclui Carlos Gil Ferreira.