Especialistas recomendam a combinação de exame de PSA e ressonância magnética para detecção precoce mais precisa e para evitar biópsias desnecessárias
Um levantamento recente publicado pelo jornal científico The Lancet mostrou que o número anual de novos casos de câncer de próstata pode dobrar até 2040, passando de 1,4 milhão em 2020 para 2,9 milhões em todo o mundo. Esse tipo de tumor é o mais comum entre homens de 112 países, segundo o relatório, que projetou, também, que as mortes pela doença podem aumentar em 85%. Contudo, especialistas afirmam que o diagnóstico precoce pode frear esse aumento de casos e a mortalidade. Para isso, sugerem mudanças nas formas de detecção.
“Atualmente, a recomendação é associar o teste de PSA – que mede os níveis do antígeno específico da próstata no sangue – à ressonância magnética (RM) para um diagnóstico mais preciso de câncer de próstata. Usar o exame de imagem traz diversos benefícios e, principalmente, evita biópsias desnecessárias”, afirma Antonio Muccillo, radiologista da CDPI, da Dasa.
Henrique Braga, radioterapeuta e coordenador da Dasa Oncologia na Unidade Barra da Tijuca, explica que o rastreio do câncer de próstata, em geral, deve começar aos 50 anos. Para homens com risco elevado para esse tipo de tumor, como aqueles com histórico familiar da doença, de ascendência africana ou com mutação no gene BRCA2, as avaliações devem iniciar aos 45 anos. E é justamente para esse público que a utilização da ressonância magnética tem mais benefícios, enfatiza o médico.
“Solicitar uma ressonância é vital quando há fatores de risco, sintomas, elevação do PSA ou alguma alteração no exame de toque ou no ultrassom. Ela contribui na identificação, com mais acurácia, de lesões suspeitas ou tumores mais agressivos, que precisam de tratamento imediato, e diferenciá-los daqueles que são mais indolentes e podem ser acompanhados por meio da vigilância ativa”.
Estudos recentes da Associação Americana de Urologia demonstraram outros benefícios da combinação de ressonância magnética com o teste de PSA. Entre eles, Antonio Muccillo destaca a maior precisão para visualizar e localizar lesões que poderiam passar despercebidas em outros métodos, como o toque retal e o ultrassom.
“Com a fusão das imagens da ressonância, ampliamos o campo de visão da doença, conseguimos entender sua localização, avaliar a extensão da lesão e, até planejar e acompanhar o tratamento, quando necessário”, explica o radiologista.
Na prática, os médicos têm solicitado a ressonância para evitar que lesões sem relevância clínica sejam diagnosticadas por biópsias desnecessárias e para ajudar a determinar quais poderiam entrar na estratégia de vigilância ativa – acompanhamento que analisa se o tumor de baixo grau avança ou não -, diminuindo o risco de complicações, e reduzindo a ansiedade e o desconforto do paciente.
“Tumores detectados em estágios iniciais geralmente crescem lentamente e não representam um risco imediato à saúde. Ou seja, o câncer tem uma evolução tão lenta que levaria muitos anos para causar sintomas ou complicações. Por isso, a vigilância ativa é uma opção para esses pacientes. Contudo, em muitos casos como esses, para confirmar a presença do câncer logo no início, as biópsias têm de ser precisas.
Porém, vemos um número elevado solicitações em homens com resultados de PSA levemente elevados, mesmo na ausência de outros sinais, o que pode aumentar o resultado de falso-negativos, em que o material retirado para biópsia não identifica um tumor presente. Nesses casos, os pacientes podem precisar repetir esse procedimento invasivo. Por isso, o uso da ressonância vem ganhando espaço, pois possibilita uma avaliação individualizada ao identificar lesões-alvo e guiar a biópsia para a região suspeita, confirmando a presença da doença tumoral”, finaliza Braga.