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Câncer em jovens adultos cresce quase 80% em três décadas: o que está por trás desse fenômeno?

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Photo by National Cancer Institute on Unsplash

Avanço de neoplasias em pessoas com menos de 50 anos traz alerta para os riscos do estilo de vida moderno e as lacunas nos protocolos de rastreamento

Nos últimos 30 anos, o número de casos de câncer entre adultos com menos de 50 anos disparou em quase 80% no mundo todo, segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da American Cancer Society (ACS). No mesmo período, a mortalidade nessa faixa etária cresceu 28%. Por trás desses números alarmantes, está um fenômeno complexo e multifatorial que desafia os modelos tradicionais de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer — e exige respostas urgentes.

“Estamos diante de uma mudança de perfil importante no cenário oncológico”, afirma o oncologista Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas&Co e presidente do Instituto Oncoclínicas. “A doença, antes associada ao envelhecimento, está se manifestando com mais frequência em adultos jovens. Isso impõe desafios clínicos, emocionais e sociais”.

Apesar de ainda não haver uma resposta definitiva, os especialistas apontam uma combinação de fatores comportamentais, ambientais e genéticos relacionados ao aumento dos casos. Entre os principais vilões estão: a má alimentação (rica em ultraprocessados), a obesidade, o sedentarismo, a exposição à poluição e a agentes químicos, além de infecções virais como o HPV — ligado ao câncer de colo do útero, garganta e boca.

“A carga ambiental e o estilo de vida contemporâneo parecem ter influência direta na alteração do padrão de incidência dos tumores. O câncer colorretal, por exemplo, tem apresentado um crescimento expressivo entre os jovens e está fortemente associado à dieta e à obesidade”, explica Carlos Gil.

Os tipos de câncer mais frequentes entre os jovens

Entre os tumores mais prevalentes nessa população, destacam-se:

  • Câncer colorretal: risco até quatro vezes maior de câncer no reto do que na década de 1950.
  • Melanoma: frequente em menores de 30 anos, muitas vezes agressivo e com forte componente genético.
  • Câncer de colo do útero: prevenível com vacinação contra o HPV e rastreamento regular.
  • Câncer de testículo: metade dos casos ocorre entre os 20 e 40 anos.
  • Câncer de mama: com incidência crescente mesmo entre mulheres jovens, exigindo atenção redobrada.

Histórias que quebram tabus

Casos recentes de figuras públicas têm contribuído para lançar luz sobre o aumento do câncer em adultos jovens, ajudando a mudar a percepção de que a doença atinge majoritariamente pessoas mais velhas. A visibilidade gerada por esses relatos tem potencial para ampliar o conhecimento da população, reduzir estigmas e estimular a busca por diagnóstico precoce.

Entre os exemplos recentes estão a princesa Kate Middleton, 43, que revelou um câncer na região abdominal; a cantora Preta Gil, 50, que compartilhou sua jornada contra o câncer colorretal, incluindo o uso de bolsa de colostomia; a empresária Fabiana Justus, 38, diagnosticada com leucemia; e o comentarista esportivo Caio Ribeiro, 49, que relatou sua experiência com linfoma de Hodgkin.

“Esses relatos têm papel fundamental para quebrar o tabu do câncer em pessoas jovens. Quanto mais falamos sobre isso, mais chances temos de estimular a detecção precoce, que é um fator decisivo para o sucesso do tratamento”, afirma Carlos Gil Ferreira.

Desafios e avanços

No Brasil são esperados cerca de 704 mil novos casos de câncer por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Enquanto o sistema privado oferece tratamentos comparáveis aos dos grandes centros internacionais, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda enfrenta entraves sérios: detecção tardia, falta de acesso a terapias modernas como imunoterapia e desigualdades regionais.

“No setor público, muitas vezes o paciente jovem já chega com a doença avançada, o que compromete o prognóstico. Precisamos rever protocolos de rastreamento e investir em campanhas específicas para esse público”, alerta o oncologista.

Apesar dos desafios, o avanço científico oferece motivos para esperança. Cirurgias menos invasivas, quimioterapias com redução de efeitos colaterais, radioterapias mais precisas e a imunoterapia, estão revolucionando o tratamento de diversos tipos de câncer. Além disso, testes genéticos permitem traçar estratégias personalizadas de prevenção e cuidado.

Para enfrentar o aumento de casos em jovens, Carlos Gil Ferreira defende uma abordagem multifacetada: “É preciso repensar os programas de rastreamento, fortalecer políticas de prevenção primária, como a vacinação e o combate à obesidade, investir em pesquisa, e garantir suporte psicológico e social aos pacientes, que muitas vezes estão no início da carreira profissional ou formando famílias”.

O crescimento do câncer entre adultos jovens é um alerta para profissionais de saúde e para a sociedade como um todo. Com a combinação certa de informação, ações efetivas em saúde pública e equidade no acesso ao diagnóstico e ao tratamento, é possível mudar esse cenário. “O câncer em jovens não pode mais ser visto como exceção. Ele é uma realidade crescente e precisa estar no centro das nossas estratégias de saúde pública”, conclui Ferreira.

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