Especialistas consideram cenário atual bastante volátil e incerto, dificultando a realização de projeções que afetam investimentos nos próximos anos
Os últimos meses de 2024 serão decisivos para que os gestores de investimentos tenham uma visão mais clara da economia brasileira e mundial para os próximos anos. Esta foi a avaliação de especialistas em finanças, política fiscal e geopolítica que participaram do evento “Cenário Macroeconômico e Político 2025” promovido pela BB Previdência na terça-feira, 24 de setembro, em Brasília, encontro que auxilia na construção das Políticas de Investimentos de 2025-2029 da entidade. Até lá os cenários exigirão observação acurada para projeções mais precisas.
Segundo os especialistas, o desenrolar das eleições municipais no País e presidencial nos Estados Unidos, esta última com possíveis impactos na relação comercial entre o Brasil e a China; da regulamentação da Reforma Tributária no Congresso Nacional; das expectativas em relação aos próximos passos do Banco Central para a Selic e o controle da inflação; além da política de contenção de gastos do governo federal e possível acirramento de conflitos espalhados pelo mundo, como na Europa e Oriente Médio; serão cruciais para aprofundar as projeções.
Ricardo Serone, Diretor Financeiro e de Investimentos da instituição, afirmou que a promoção desses encontros fornece insights para tomada de decisões da BB Previdência. “O objetivo é aprofundar informações e colher insumos para retroalimentar a política de investimentos, o planejamento estratégico e o orçamento da entidade nos próximos cinco anos. Estes são pilares importantes para todas as empresas caminharem no longo prazo”, disse Serone, na abertura do encontro.
Evento “Cenário Macroeconômico e Político: Política de Investimentos 2025”
Dividido em dois painéis, participaram do evento o especialista em finanças José Maurício Pimentel, Economista-Chefe da BB Asset, também patrocinadora do encontro; a especialista em política fiscal Vilma da Conceição Pinto, Diretora da Fiscal Independente do Senado Federal (IFI-SF); e o especialista em geopolítica Silvio Cascione, Diretor da Eurasia Group no Brasil.
Mediado por Adriana Pelegrina, Gerente de Soluções da BB Asset, o primeiro painel abordou os impactos das políticas fiscal e monetária na economia brasileira. Para Pimentel, desde meados do primeiro semestre, o Brasil presencia uma desancoragem crescente das expectativas do mercado em relação à inflação que, se permanecerem nesse ritmo, podem afastá-la cada vez mais do centro da meta prevista.
“Se as expectativas reagirem até novembro, é possível prever mais três altas de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros até janeiro, com a Selic ficando em 11,50% até julho de 2025, quando será iniciado o ciclo de cortes para finalizar o próximo ano em 10%. Mas, se as expectativas continuarem no mesmo ritmo, é bem possível que a Selic para 2025 seja revista”, disse Pimentel, que atribui a desancoragem das estimativas a ruídos na comunicação do próprio Banco Central.
Crescimento menor do PIB em 2025
O Economista-Chefe da BB Asset disse que, atualmente, a instituição trabalha com uma perspectiva de 3,4% de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) ao final de 2024 e de 2% em 2025. O crescimento menor projetado para o próximo ano será oriundo de políticas fiscal e monetária mais restritivas, especialmente no primeiro semestre; e esgotamento da capacidade produtiva, particularmente a industrial, que poderá ocasionar pressão inflacionária, ele afirmou.
Vilma da Conceição Pinto ressaltou que a IFI-SF, no longo prazo, estima crescimento de 2,2% para o PIB. “Antes eram 2%, mas com a aprovação da Reforma Tributária foram atribuídos mais 0,2% de expansão. Entretanto, os estudos de projeções foram realizados com a versão original da Reforma, que traziam esses ganhos significativos. Com as flexibilizações que estão vindo com a regulamentação, os resultados serão inferiores, mas ainda estão sendo avaliados”, observou.
Para a Diretora da IFI-SF, o atual governo gerou surpresas positivas em termos de arrecadação. Entretanto, as medidas ainda são insuficientes para zerar o déficit fiscal, conforme o próprio planejamento federal.
“Para equacionar essa frustração, o governo tem flexibilizado as regras, tirando do cálculo da meta fiscal uma série de despesas, algo em torno de R$ 40,5 bilhões; e com a criação dos limites superior e inferior de 0,25% do PIB para o centro da meta fiscal, que é déficit zero. As revisões que o governo tem feito miram no limite inferior e, assim, não é preciso contingenciar as despesas maiores, o que torna o Arcabouço Fiscal não crível, além de outras ineficiências do ponto de vista de credibilidade e de sustentabilidade do Arcabouço”, disse Vilma da Conceição Pinto.
Impactos das eleições nos EUA no Brasil
A Eurasia Group no Brasil prevê que os próximos dois anos serão mais complicados com aumento das incertezas e volatilidades, embora estime que o Brasil esteja bem-posicionado no cenário global por deter muitas soluções para os problemas atuais mundiais, por ser uma potência na área agrícola, de energia limpa, de produção de petróleo e de minérios, segundo Silvio Cascione, Diretor da entidade.
“Existe maior interesse no Brasil hoje do que há alguns anos, muito em função de seus ativos. O maior problema para o País aproveitar todo esse potencial é o fiscal, com as mudanças constantes nas regras e a busca do equilíbrio em investimentos. Como financiar o social e, ao mesmo tempo, investir para essas entregas que o mundo demanda, é a questão a ser resolvida”, disse Cascione.
Ao analisar as eleições nos Estados Unidos, Cascione prevê inflação maior no Brasil se o candidato Republicano, Donald Trump, vencer. Com uma probabilidade de 55% para a eleição do ex-presidente, de acordo com a Eurasia, Trump pode aumentar tarifas de importações e atingir setores brasileiros, como o de etanol e aço.
Na avaliação do executivo, se Trump vencer também negociará tarifas com a China, cujo crescimento atual é considerado fraco e impacta a economia brasileira, uma vez que o país asiático é um dos mais importantes compradores de produtos brasileiros. “Resta saber se os estímulos econômicos anunciados hoje pela China serão suficientes para uma expansão ainda maior da sua economia, o que favorecerá mais o Brasil”.