Instabilidade nas exportações amplia o movimento de M&As defensivos e exige preparação jurídica para evitar impasses entre sócios, alerta especialista
A escalada tarifária entre Brasil e Estados Unidos, oficializada com a assinatura do tarifaço por Donald Trump e prevista para vigorar a partir de 6 de agosto, está pressionando empresas brasileiras não apenas no comércio exterior, mas também nas estruturas internas de governança. Segundo a advogada Jônia Barbosa de Souza, especialista em societário e M&A e sócia do Duarte Tonetti Advogados, o cenário adverso reacende a busca por fusões estratégicas e reorganizações empresariais como medida de proteção.
“Crises como essa geralmente provocam movimentos defensivos. Empresas fragilizadas se tornam alvos de aquisição, e grupos mais estruturados avaliam fusões como forma de ganhar musculatura e resistir ao avanço de concorrentes internacionais”, explica a especialista.
Esse tipo de movimentação, chamada de M&A defensivo, prioriza a manutenção de participação no mercado — e não a expansão tradicional. O objetivo é garantir competitividade em meio à perda de receitas ou margens. “É um reposicionamento forçado pela conjuntura. O problema é quando a estrutura societária não está preparada para isso, o que pode travar decisões essenciais”, alerta Jônia.
A especialista destaca a importância de uma governança sólida para responder com agilidade a choques externos. Ter atos societários atualizados, acordos de sócios que contemplem divergências em cenários críticos, regras claras de sucessão e contas de reserva são mecanismos essenciais. “Muitos negócios emperram por falta de alinhamento prévio entre os sócios. Em uma crise, isso pode ser fatal”.
Outro ponto crucial é a busca por novos mercados para compensar perdas com os EUA. Jônia ressalta que essa expansão pode demandar adaptações jurídicas profundas. “Entrar em outro país, buscar investidores ou diversificar produtos exige reorganizações que levem em conta tributação, compliance e atração de capital. Nada disso se faz de improviso”.
A advogada pontua que o tarifaço dos EUA reforça o papel estratégico do jurídico societário: “Momentos como esse exigem decisões rápidas, mas bem embasadas. A empresa precisa estar blindada juridicamente para agir com segurança — seja para se proteger, negociar ou crescer”.
Para Jônia, empresas que ainda não revisaram sua estrutura societária correm risco de travar em decisões urgentes ou perder oportunidades estratégicas. “Não basta reagir à crise — é preciso estar juridicamente pronto para transformá-la em diferencial competitivo. Quem estrutura hoje, negocia melhor amanhã”, conclui.
*Com informações de Agência 2205wv