Dados da Howden mostram preocupação crescente com gestão de riscos no setor de eventos
O Brasil está se preparando para uma temporada histórica no setor de entretenimento e eventos. Segundo a Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Eventos), o mercado brasileiro deve movimentar R$ 141,1 bilhões em 2025. Em meio a festivais de grande porte como o The Town, que acontece em setembro, em São Paulo, além da aguardada COP30, que será realizada em Belém, cresce também a atenção dos organizadores para um elemento fundamental: o seguro. A preocupação ganhou ainda mais força após o incêndio que atingiu o palco principal do Tomorrowland, na Bélgica, neste mês, levantando discussões globais sobre os riscos envolvidos em grandes produções. De acordo com dados da Howden Brasil, corretora especializada em seguros de alta complexidade, a contratação de seguros para eventos aumentou 269,23% nos últimos 4 anos, impulsionada pela compreensão de que o seguro se tornou um pilar essencial no setor.
Mais do que uma formalidade contratual, o seguro é uma ferramenta estratégica de proteção. Em shows, feiras, festivais e ativações de marca, ele garante que artistas, patrocinadores e o público estejam amparados diante de imprevistos como eventos climáticos extremos, falhas técnicas, acidentes e até ataques cibernéticos. As coberturas disponíveis atualmente no mercado vão muito além da proteção básica, explica Ricardo Minc, Diretor de Esportes, Mídia e Entretenimento da Howden Brasil. Há apólices específicas para responsabilidade civil por danos materiais, seguro de acidentes pessoais e até mesmo seguro-viagem para a equipe, além de coberturas “all risks” para bens, equipamentos e infraestrutura utilizados na realização do evento.
“O setor amadureceu significativamente no período pós-pandemia, especialmente em relação à gestão de riscos. Hoje, os patrocinadores estão mais rigorosos e exigem garantias contratuais robustas, que incluem responsabilidade civil, proteção à marca e mitigação de danos. Esse movimento impulsionou a busca por coberturas mais amplas e específicas, como proteção contra prejuízos financeiros e perda de lucro em casos de cancelamento, adiamento, relocação ou interrupção de eventos por força maior, inclusive em situações de não comparecimento de artistas ou palestrantes por motivo de acidente ou doença. Também há coberturas voltadas para riscos cada vez mais presentes na realidade dos eventos, como conteúdo de mídia, uso de veículos e drones, e prejuízos materiais ou corporais durante os processos de montagem e desmontagem”, destaca. De acordo com Ricardo Minc, no caso dos artistas, o seguro também virou uma peça-chave. Muitos exigem que o promotor contrate apólices que garantam o pagamento integral do cachê em caso de cancelamento, adiamento ou interrupção do evento por motivos alheios ao seu controle, como fenômenos climáticos, falhas técnicas, decisões judiciais ou ciberataques. Por outro lado, quando o impedimento parte do próprio artista, há seguros específicos que cobrem os reembolsos necessários.
Além da proteção direta, o seguro apresenta ainda um papel importante na estratégia financeira. “Em cenários de imprevistos, evita que o produtor precise recorrer a empréstimos de emergência, funcionando como uma alavanca. Também é essencial do ponto de vista jurídico, em casos de litígios, em que organizadores e patrocinadores costumam ser responsabilizados solidariamente, mesmo sem envolvimento direto no incidente. Ventos, chuvas e outros eventos climáticos extremos podem danificar estruturas, interromper apresentações e colocar em risco a vida da equipe e do público. A ausência de cobertura adequada pode gerar prejuízos milionários. Por isso, ter um seguro bem estruturado protege todos os stakeholders”, ressalta o diretor Ricardo Minc.
Segundo ele, em projetos culturais — sejam ou não realizados por meio de leis de incentivo, como a Lei Rouanet — é altamente recomendável que o seguro seja orçado ainda na fase de planejamento. Antecipar esse custo evita surpresas orçamentárias, assegura que o valor esteja previsto no plano financeiro e contribui para a proteção do patrimônio do organizador, além de garantir a viabilidade econômica do projeto como um todo.
Tecnologia como aliada
Na visão de Minc, a tecnologia se tornou uma grande aliada na proteção. “Soluções como pulseiras RFID, reconhecimento facial, sensores inteligentes e softwares de segurança ajudam a prevenir furtos, controlar acessos e evitar aglomerações. Além de aumentar a segurança do público, essas medidas podem ajudar a reduzir o valor do prêmio do seguro, ao demonstrar maior controle de risco. Algumas seguradoras já oferecem condições especiais para eventos que adotam práticas sustentáveis. Por outro lado, o avanço de tecnologias baseadas em nuvem, IoT e inteligência artificial também elevou os riscos cibernéticos. Hoje, é indispensável avaliar com atenção se as apólices de responsabilidade civil e cancelamento contemplam incidentes como ataques a sistemas, falhas de TI ou interrupções”, afirma.
Com a chegada de festivais e conferências de grande porte ao longo do segundo semestre, o Brasil vem aprimorando a forma como organiza e protege suas operações no setor de eventos. “A adoção de seguros mais completos e integrados, alinhados a práticas de gestão de risco e ESG, mostra que o país está cada vez mais preparado para receber grandes eventos com segurança e responsabilidade”, complementa.