Método Perfetti propõe exercícios para ajudar o cérebro a formar novas conexões e recuperar funções afetadas por AVC, Parkinson, ELA e outras lesões
Quando o cérebro sofre uma lesão que compromete suas funções, como um AVC, um traumatismo craniano ou sequelas de uma doença neurodegenerativa, o corpo perde mais do que força. Perde conexão. Os gestos mais simples, como segurar um talher ou levar a mão ao rosto, podem se tornar grandes desafios. Isso acontece porque o trauma afeta não só os músculos, mas também a maneira como o cérebro reconhece o próprio corpo e organiza o movimento. O caminho da recuperação exige mais do que repetição, é necessário um reaprendizado.
É nesse contexto que surge a Reabilitação Neurocognitiva, abordagem terapêutica baseada em neurociência, que ajuda o cérebro a recuperar funções perdidas por meio da ativação de processos cognitivos como atenção, percepção, memória e linguagem. Na prática clínica, essa reabilitação é conduzida por profissionais como a terapeuta ocupacional Syomara Cristina Szmidziuk.
“Não basta pedir para o paciente repetir um movimento várias vezes. A gente precisa criar condições para que ele compreenda o que está fazendo, pense sobre o que sente e organize esse gesto de maneira consciente. Só assim conseguimos ativar a neuroplasticidade e abrir novos caminhos no cérebro”.
Método Perfetti
Esse modelo de reabilitação neurocognitiva é guiado pelo Método Perfetti, criado na década de 1970 pelo médico italiano Carlo Perfetti. A teoria parte do princípio de que o movimento é, antes de tudo, uma ação cerebral. Também considera que a recuperação de uma função motora deve envolver estímulos sensoriais precisos, percepção ativa e raciocínio, para que o cérebro possa reorganizar suas funções a partir de trilhas neurais alternativas. Ou seja, o órgão precisa sentir, entender e pensar o movimento para conseguir reaprender a controlar o corpo.
Durante as sessões, os pacientes são expostos a objetos sensoriais específicos criados para a aplicação do Perfetti, chamados sussidi, e realizam tarefas que desafiam o cérebro a reconhecer e reorganizar padrões de ação. O objetivo não é automatizar, mas compreender.
“O método Perfetti permite que o paciente reaprenda o gesto a partir da relação entre corpo e mente. A pessoa não é mais um receptor passivo do tratamento, ela é parte ativa do próprio processo de recuperação”, diz Syomara.
A técnica pode ser aplicada em casos como Acidente Vascular Cerebral (AVC), Parkinson, Esclerose Múltipla, Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), lesões periféricas, dores neuropáticas, paralisias e até atrasos no desenvolvimento infantil.
Ao longo das últimas décadas, o método Perfetti tem se mostrado sido aplicado na prática da terapia ocupacional, por transformar a lógica da reabilitação neuromotora. Em vez de priorizar apenas o fortalecimento muscular, ele propõe restaurar o elo entre sensação, intenção e movimento. Com isso, devolve ao paciente a capacidade de se reconhecer em sua ação.
“O que queremos é que o paciente não apenas volte a se mover, mas compreenda o próprio corpo novamente. A recuperação começa quando ele deixa de ser um receptor passivo e se torna agente ativo da sua reabilitação”, conclui Syomara.