Mais de 90 mil consórcios no segmento foram contemplados em 2024
Com a retração das linhas tradicionais de financiamento, o produtor rural brasileiro tem encontrado no consórcio uma das poucas alternativas viáveis para seguir investindo no campo. Antes mais comum na aquisição de veículos e imóveis, essa modalidade tem ganhado cada vez mais espaço no agronegócio, sendo usada para a compra de tratores, colheitadeiras, implementos agrícolas e até áreas de terra. De acordo com a ABAC (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios), mais de 90 mil participantes foram contemplados somente no ano passado.
O segmento de consórcios voltado para veículos pesados — que inclui caminhões, ônibus, tratores e implementos — apresentou um desempenho expressivo em 2024 e projeta crescimento contínuo para 2025. Segundo a ABAC, o setor registrou um avanço de 38,9%, movimentando R$ 17,5 bilhões. Cleber Gomes, CEO e sócio-fundador da Maestria — empresa especializada em consórcios e soluções financeiras B2B há mais de uma década —, destaca que o aumento dos juros e as dificuldades de acesso ao crédito tradicional têm impulsionado produtores e empresários a buscarem alternativas como o consórcio.
“Com a suspensão de algumas linhas de crédito, inclusive do Plano Safra, o produtor rural hoje se depara com juros que chegam a 20% ao ano para financiar uma máquina. Nesse cenário, o consórcio se consolidou como uma alternativa real e crescente no agronegócio, tanto é que nos últimos 10 anos, o crescimento foi de 400%. Alguns fabricantes, chegam a vender até 40% das máquinas por meio de consórcio. Isso acontece porque, muitas vezes, o produtor não consegue financiamento no banco; e quando aprovado, enfrenta juros altos, exigência de garantias complementares e burocracia pesada. O consórcio preenche essa lacuna e tem sido o caminho mais viável para o agricultor seguir investindo”, explica.
A ABAC projeta um crescimento de 10% no segmento de consórcios de veículos pesados para 2025. Essa expectativa é impulsionada por fatores como a previsão de uma safra agrícola recorde e o anúncio do Plano Safra, que destinará R$ 400 bilhões para o financiamento da agricultura empresarial.
Esses investimentos devem fortalecer a demanda por máquinas e implementos agrícolas, além de contribuir para a expansão da frota de veículos pesados utilizados no transporte rodoviário e nas operações do agronegócio. Para além disso, quem precisa comprar terras para os seus negócios, o consórcio acaba sendo também o melhor caminho.
“Hoje, o consórcio virou, na prática, a única alternativa para muitos agricultores que querem comprar sua própria terra. As linhas de crédito bancárias para esse fim praticamente não existem mais. O crédito fundiário, que era uma opção até R$180 mil, está bloqueado e exige uma série de critérios. Já os bancos só liberam financiamento se o produtor tiver um imóvel urbano como garantia — a própria terra que ele quer comprar não é aceita. Por outro lado, dependendo da administradora, o consórcio permite usar a terra como garantia, o que muda completamente o jogo. Além disso, mesmo quem tem acesso ao crédito rural tradicional enfrenta taxas de 16% a 17% ao ano e prazos curtos, enquanto o consórcio oferece uma forma mais viável e planejada de conquistar esse patrimônio”, explica o CEO de Maestria.