Confira artigo de Thomas Gaitier, CEO do Freto
Com a COP30 e a transição energética como pauta central, cresce a pressão para que empresas saiam da inércia. Nessa fase, ainda há tempo para quem não deu este passo importante: deixar de lado a ideia da sustentabilidade como centro de gastos e considerá-la parte da estratégia de performance. Um caminho para cortar custos, impulsionar a operação e tornar as empresas ainda mais competitivas.
Enquanto especialistas discutem o nível de urgência climática em que nos encontramos, dentro das organizações a urgência também é de eficiência. Se na carta distribuída a 197 países o embaixador André Corrêa do Lago – presidente designado da COP30 – usou o tom de ponto de virada, as empresas também precisam assumir esse olhar de transição, caso queiram construir uma nova realidade em seus setores.
No mundo corporativo, sustentabilidade já não é mais ferramenta para reagir a transformações. Em diversos setores, é pré-requisito para liderá-las e gerar retornos financeiros tangíveis. Um estudo do Boston Consulting Group (BCG) de setembro deste ano realizado em 26 países indica que cerca de 80% das empresas globais já obtêm ganhos financeiros expressivos a partir de iniciativas de descarbonização, com aumento de vendas, economia operacional e outros benefícios.
Além de reduzir custos, adotar práticas sustentáveis é uma forma de afastar riscos e garantir a perenidade do negócio. A Axia Energia, antiga Eletrobras, por exemplo, firmou parceria com uma empresa de tecnologia para monitorar a rede elétrica por meio de Inteligência Artificial. O sistema visa detectar falhas em tempo real para agilizar a resposta a imprevistos e até prevenir incêndios próximos a linhas e subestações, comuns no país.
Empresas que integram sustentabilidade à estratégia de crescimento conquistam vantagem competitiva e valorização financeira. Essa resiliência operacional se traduz diretamente em menor risco financeiro, algo que o mercado já começou a precificar. Em um ambiente cada vez mais volátil e incerto, negócios sustentáveis mostram planejamento para lidar com mudanças bruscas ou gargalos até pouco tempo insolúveis nos seus mercados. Algo que os torna atrativos no longo prazo.
A própria S&P Global incorpora fatores ESG em suas classificações de crédito, quando esses indicadores têm impacto comprovado sobre o risco e a geração de caixa das companhias. Ou seja, também não basta ser sustentável. É preciso utilizar os dados com transparência para mostrar que as ações estão tornando as empresas mais sólidas.
Um estudo da McKinsey com cerca de 2 mil empresas apontou que mais da metade das companhias que conciliam crescimento, lucro e ESG – as chamadas triple outperformers – apresentaram expansão de receita acima de 10% ao ano, mais que o dobro da média do mercado. Considerando que as oportunidades de investimento em sustentabilidade são crescentes, os números podem ficar melhores à medida que a indústria perceba a importância de combinar crescimento com a eficiência que a responsabilidade proporciona.
Apesar de todo o simbolismo de uma edição na região amazônica, um dos questionamentos em relação à COP30 foi em relação ao nível de infraestrutura local para receber um evento dessa magnitude. No fim das contas, Belém do Pará continuou como sede e nos traz uma lição. No mundo dos negócios, mesmo quando o cenário não parecer o ideal, a inovação e a sustentabilidade podem abrir uma nova estrada. É tempo de construir soluções novas mesmo em cenários adversos.
**Thomas Gautier tem duas décadas de experiência em grupos internacionais e assumiu como CEO do Freto em 2021. O executivo iniciou sua carreira na França e tornou-se CFO da Repom, no Brasil, em 2013. Em 2017, virou diretor-geral da Repom e, em 2018, passou a ser Head de Logística do Grupo Edenred, quando, em sua gestão, o Freto nasceu.
