Confira artigo de Marcos Mello, Diretor da Marsh Advisory e Marjorie Leite, Consultora de Clima e Sustentabilidade da Marsh Brasil
A crescente frequência e severidade de eventos climáticos extremos configuram um novo paradigma de risco para o mercado segurador. A escalada dos sinistros impacta diretamente a rentabilidade das carteiras de seguros patrimoniais, rurais e de infraestrutura, ao mesmo tempo em que torna a precificação dos prêmios em áreas de alto risco uma tarefa cada vez mais complexa. A pressão regulatória e social por práticas de gestão de riscos alinhadas com frameworks ESG também é cada vez maior.
As chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SbN) surgem como uma possibilidade de resposta estratégica e inovadora a esse cenário crítico. Por meio delas, o setor pode atuar na raiz do problema, investindo em ações que, comprovadamente, reduzem a exposição aos riscos climáticos, em vez de apenas indenizar perdas.
As SbN envolvem ações de proteção, gestão sustentável e restauração de ecossistemas para mitigar os impactos de desastres naturais. Como exemplo, os projetos podem se concentrar em:
- Prevenção de enchentes: a restauração de planícies de inundação, matas ciliares e manguezais aumenta a capacidade natural de absorção e escoamento da água, reduzindo o impacto de inundações em áreas urbanas e rurais seguradas.
 - Segurança hídrica e agrícola: a conservação de nascentes e bacias hidrográficas garante a regularidade do fornecimento de água, diminuindo as perdas de produtividade agrícola e os sinistros de seguros rurais relacionados a secas severas.
 - Proteção da biodiversidade: a recuperação de recifes de corais e mangues atua como uma barreira natural contra tempestades e a elevação do nível do mar, protegendo infraestruturas críticas e empreendimentos imobiliários segurados.
 - Sequestro de carbono: projetos de reflorestamento, conservação de florestas e recuperação de solos degradados atuam na remoção de CO₂ da atmosfera, além de prevenir a erosão e deslizamentos de terra em áreas seguradas.
 
A adoção das SbN transcende a simples mitigação de perdas e se apresenta como uma oportunidade de negócio tangível. Segundo o World Resources Institute (WRI), cada dólar investido em adaptação climática, incluindo SbN, pode gerar mais de US$ 10 em benefícios ao longo de uma década.Ao promover projetos de infraestrutura verde, as seguradoras podem reduzir a sinistralidade em suas carteiras, justificar a oferta de prêmios mais competitivos para clientes que adotam práticas resilientes e desenvolver produtos de seguro inovadores, como os paramétricos, associados à saúde de ecossistemas.
SbN na prática: 7 oportunidades de negócio para o setor
- Gestão de riscos e construção de resiliência: as seguradoras podem desenvolver produtos que viabilizem projetos de SbN (como seguros para obras de restauração de ecossistemas), tornando-os mais atrativos para investidores. O sucesso dessas iniciativas reduz a exposição a desastres naturais, o que se reflete diretamente na diminuição da sinistralidade das carteiras tradicionais de seguros patrimoniais e de vida.
 - Desenvolvimento de produtos de seguro inovadores: a expertise do setor permite o desenvolvimento de seguros paramétricos atrelados a indicadores ecológicos (nível de desmatamento e qualidade da água, por exemplo). Já a regulamentação do Mercado de Carbono e a emissão de títulos verdes geram uma demanda imediata por seguros que cubram os riscos desses novos ativos.
 - Valoração e segurabilidade dos serviços ecossistêmicos: com o avanço das metodologias que valorizam economicamente os serviços ecossistêmicos (sequestro de carbono, regulação hídrica, créditos de biodiversidade), as seguradoras podem criar apólices para proteger esses ativos. Isso cria novos mercados para o seguro do capital natural e de atividades associadas à bioeconomia, incentivando investimentos na saúde e restauração dos ecossistemas.
 - Apoio ao desenvolvimento sustentável e à bioeconomia: o seguro pode facilitar o crescimento dos setores da bioeconomia, ao fornecer ferramentas de mitigação de riscos para agricultura sustentável, silvicultura, pesca, geração de energia renovável, biocombustíveis, entre outras, desbloqueando novas oportunidades econômicas. A bioeconomia é também uma grande oportunidade de justiça social e desenvolvimento econômico para comunidades, que passam a ser incluídas em um circuito produtivo que gera renda a partir da valorização dos ativos locais.
 - Aprimoramento da resiliência de empresas e comunidades: as seguradoras podem oferecer condições especiais, descontos ou coberturas personalizadas para empresas, municípios e comunidades que comprovadamente implementam medidas de adaptação baseadas em ecossistemas, fomentando resiliência e desenvolvimento sustentável.
 - Alinhamento com metas globais de clima e biodiversidade: em um cenário global no qual os critérios ESG são decisivos, o alinhamento com metas de clima e biodiversidade é um diferencial de mercado. A liderança nessa agenda, tendo a COP30 no Brasil como vitrine, fortalece a marca, atrai investidores e posiciona a seguradora como um ator-chave na construção de um futuro sustentável.
 - Desenvolvimento de dados e metodologias: a complexidade de precificar riscos associados a ecossistemas impulsiona a inovação em modelagem e análise de dados. As seguradoras que dominarem essa nova fronteira do conhecimento terão uma vantagem significativa na precisão da subscrição e na criação de produtos, adaptando-se mais rapidamente à nova realidade climática.
 
Com esse potencial, as SbN são consideradas um componente central na estratégia de adaptação climática – e o cenário para sua implementação em larga escala está se consolidando. O novo acordo de financiamento climático, definido na COP29, sinaliza um fluxo de capital robusto para a infraestrutura verde.
No Brasil, esse movimento é catalisado por instrumentos-chave como a Taxonomia Sustentável Brasileira e a Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos (BIP), que criam um ecossistema de investimento transparente e seguro.
A COP30 é a vitrine ideal para posicionar o setor de seguros como viabilizador desses avanços. Ao invés de apenas debater os custos crescentes dos desastres, o mercado de seguros pode mostrar ao mundo como está desenvolvendo mecanismos para financiar a resiliência, alinhando propósito e lucratividade para o futuro.
			
						
										
										
										
										