Angústia dos 30 anos afeta os millennials e redes sociais podem causar sensação de não terem atingido o sucesso nessa fase da vida
A angústia dos 30, muitas vezes referida como “crise dos 30 anos”, é uma sensação que várias pessoas experimentam quando chegam ou se aproximam dessa faixa etária. A geração de 1995 estará chegando aos 30 em 2025 e enfrenta diversos desafios como a inadimplência e o impacto das redes sociais na saúde mental.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em um mapeamento realizado em 2023, o Brasil é o país com a maior incidência de depressão da América Latina, com cerca de 5,8% da população, o que equivale a 11,7 milhões de pessoas.
Essa fase da vida pode envolver um misto de emoções e reflexões sobre a vida pessoal e profissional, incluindo realizações, metas e o equilíbrio entre desejos individuais e responsabilidades. Isso pode despertar sentimentos de dúvida, incerteza e a pressão por corresponder às expectativas de sucesso e felicidade pré-estabelecidas pela sociedade ou por si mesmo. Com a presença nas redes sociais no dia a dia, essa sensação de comparação pode se tornar ainda maior.
“A comparação com as vidas idealizadas nas redes sociais gera um efeito negativo na autoestima e na percepção de sucesso. Ao se comparar com as imagens perfeitas e os momentos de felicidade que outros compartilham, as pessoas podem desenvolver sentimentos de inferioridade, insegurança e inadequação. Essa busca por uma imagem perfeita cria uma falsa realidade, levando muitos a se sentirem frustrados com suas próprias vidas e a duvidarem de suas conquistas”, explica Aline Sabino, psiquiatra na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
A especialista afirma que a busca incessante por validação externa nas redes sociais pode levar a diversas consequências negativas, como: diminuição na autoestima, isolamento social, pressão constante por manter uma vida perfeita e a sensação de não corresponder às expectativas sociais.
“Este ambiente de comparação constante e a pressão por manter uma imagem imaculada também pode ser terreno fértil para transtornos emocionais como ansiedade e depressão. A sensação de não corresponder a expectativas, muitas vezes irreais, pode afetar profundamente nosso bem-estar mental”, reforça a especialista.
Independência financeira vs saúde mental
Essa etapa da vida também gira em torno da independência financeira e, nesse cenário, a crise econômica e a precarização do trabalho têm impactado significativamente a forma como os millennials planejam seu futuro. Os millennials enfrentam diversas dificuldades para alcançar marcos tradicionais da vida adulta, como:
- Alto custo de vida: A inflação e o aumento dos preços dos imóveis e de outros bens de consumo dificultam a realização de sonhos como comprar uma casa própria.
- Dívidas: Muitos millennials estão endividados por causa de dívidas estudantis e outras obrigações financeiras.
- Instabilidade profissional: A precarização do trabalho e a falta de segurança no emprego dificultam o planejamento financeiro de longo prazo.
Segundo um levantamento da CNDL e SPC Brasil, em novembro de 2024, a faixa etária entre 30 e 39 anos representa 23,60% do total de inadimplentes, ou seja, 16,93 milhões de pessoas.
“A insegurança econômica e a dificuldade em encontrar empregos estáveis levam muitos a adiar planos como comprar um imóvel, formar uma família e viajar. Além disso, a necessidade de se adaptar a um mercado de trabalho em constante mudança exige que os millennials sejam mais flexíveis”, ressalta ela.
Essa realidade desafiante, no entanto, não precisa ser enfrentada sozinha. Sabino ressalta que é essencial que os millennials procurem redes de apoio que ofereçam orientação e suporte emocional.
“As comunidades são fundamentais nesse processo, proporcionando um espaço para troca de experiências e fortalecimento mútuo. Ao cultivar compaixão e empatia, tanto no ambiente de trabalho quanto na vida pessoal, é possível criar um futuro mais estável e satisfatório, apesar dos obstáculos”, finaliza a psiquiatra.