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Crises invisíveis: Como a relação com terceiros por se tornar a maior ameaça à reputação da sua empresa

Bruno Santos, sócio da área de Gestão de Terceiros da Bernhoeft / Foto: Divulgação
Bruno Santos, sócio da área de Gestão de Terceiros da Bernhoeft / Foto: Divulgação

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Em tempos de exposição constante e alta cobrança por integridade, não são apenas erros internos que colocam empresas em risco. Muitos dos grandes escândalos corporativos dos últimos anos nasceram de um elo cada vez mais sensível da cadeia de valor: os terceiros. Do trabalho análogo à escravidão em fornecedores ao descumprimento de obrigações fiscais por prestadores de serviços, o histórico recente mostra que a gestão de terceiros precisa estar no centro das estratégias de compliance e governança.
Nesse contexto, chama atenção o fato de que apenas 27% das empresas brasileiras concluíram ou estão em processo de avaliar riscos relacionados ao trabalho escravo, ou têm planos de fazê-lo no curto prazo. Ainda mais preocupante é saber que 35% das empresas no Brasil sequer consideram esse tema relevante, um percentual significativamente acima da média global. O cenário revela um risco latente que muitas organizações ainda ignoram — e que pode facilmente escalar para uma crise reputacional de grandes proporções.

Embora nenhuma empresa esteja totalmente imune a crises, muitas delas poderiam ser evitadas com uma atuação mais preventiva, estruturada e integrada. Os riscos incluem desde fraudes e vazamento de dados até falhas contratuais e não conformidade com legislações trabalhistas e ambientais. Em setores altamente regulados — como saúde, logística e energia —, esses riscos se multiplicam, e a tolerância ao erro é mínima.
A boa notícia é que é possível agir antes que os problemas se tornem públicos (e caros). O primeiro passo é enxergar o compliance não apenas como obrigação regulatória, mas como uma ferramenta estratégica. Um programa bem estruturado de integridade, com políticas claras, treinamentos recorrentes e monitoramento contínuo, atua como uma barreira natural contra desvios.

Especificamente na gestão de terceiros, os pilares de prevenção começam com um mapeamento detalhado da cadeia de fornecedores, seguido de um processo rigoroso de due diligence — etapa que vai muito além da checagem de documentos e serve para avaliar riscos financeiros, reputacionais, ambientais e sociais. É fundamental, também, manter contratos bem estruturados, com responsabilidades, obrigações e penalidades claramente definidas.
A tecnologia é uma grande aliada nesse processo. Plataformas especializadas conseguem monitorar em tempo real a regularidade de fornecedores, enquanto sistemas automatizados de compliance e análise de documentos agilizam a tomada de decisão, reduzem falhas humanas e antecipam não conformidades. Ferramentas de inteligência artificial, por exemplo, já são usadas para prever falhas e garantir que apenas fornecedores aptos iniciem atividades críticas.

A falta de transparência, atrasos frequentes na entrega de documentos, mudanças bruscas na operação ou estrutura dos fornecedores e reincidência de não conformidades são sinais de alerta que não devem ser ignorados. Quando negligenciados, esses indícios geralmente culminam em crises com alto custo financeiro e reputacional.

A evolução das regulamentações também pressiona empresas a manter um nível mais elevado de governança. A responsabilidade solidária entre contratante e fornecedor, cada vez mais presente na legislação, reforça a necessidade de vigilância contínua e de práticas alinhadas aos princípios ESG. O futuro da governança corporativa está na automação do compliance, na exigência crescente de certificações e na integração dessas práticas à cultura organizacional.

Por fim, mais do que reagir a crises, é preciso construir uma estrutura capaz de evitá-las. Isso inclui não só ferramentas e processos, mas também uma mentalidade empresarial que compreenda que riscos não são inevitáveis — mas sim, muitas vezes, previsíveis e evitáveis.

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