A falta de alinhamento sobre a visão de longo prazo, distribuição de dividendos e profissionalização da gestão estão entre as causas mais frequentes de conflitos em conselhos de administração. Seja uma startup que recebeu um investimento recente, seja em companhias já consolidadas há anos, quando estes pontos não são discutidos com transparência, a governança pode se tornar instável, comprometendo a eficiência e o engajamento de colaboradores.
Para muitas empresas, o primeiro desafio está em definir papéis e responsabilidades claros, minimizando o risco de invasão de competências e conflitos operacionais. “Os acordos de acionistas, que deveriam trazer clareza, mostram um acordo financeiro, mas pouco falam da governança necessária para dar sustento ao futuro do negócio”, ressalta a especialista em desenvolvimento profissional e mudanças organizacionais, Susana Azevedo.
Em casos críticos, o apoio de mediadores externos pode ajudar as partes a chegarem a um consenso, embora este recurso ainda seja subutilizado. “Mais do que insistir em ter razão, é crucial para os envolvidos demonstrar flexibilidade e inteligência emocional para negociações construtivas. A empresa reforça que uma boa comunicação estratégica, amparada por processos bem estruturados, pode evitar que os conflitos alcancem um ponto sem retorno”, completa a especialista, que também é sócia da Quantum Development.
Discussões aprofundadas
De acordo com Susana, os acordos de acionistas muitas vezes estão focados no aspecto financeiro e pouco falam da governança necessária para dar sustento ao futuro do negócio. Outro ponto crítico é a falta de alinhamento entre acionistas, fundadores e o conselho quanto à visão de futuro, valores e estratégia do negócio.
A ausência de discussões aprofundadas sobre esses temas durante as negociações iniciais de investimento pode dificultar o funcionamento da organização. Para mitigar esse problema, é preciso que todos os envolvidos, incluindo executivos e fundadores, participem de um processo aberto de diálogo, promovendo um entendimento comum sobre governança, dinâmica de trabalho, comunicação e tomada de decisão. “Esse alinhamento não só fortalece a confiança e a transparência, como também cria um ambiente seguro para conversas estratégicas e decisões cruciais para o crescimento sustentável da empresa”, reforça Susana.
Cultura organizacional intencional
Para promover uma governança corporativa sustentável, é vital respeitar a independência dos conselheiros, incentivando ao mesmo tempo o diálogo aberto entre as partes. “Uma governança eficaz e colaborativa depende do alinhamento de expectativas e da vontade de cada grupo de fortalecer a organização”, destaca a sócia da Quantum Development. Essa abordagem permite construir uma cultura organizacional intencional, que se traduz em alinhamento entre os objetivos estratégicos e o dia a dia da empresa, gerando um ambiente mais preparado para enfrentar desafios futuros.
“Estabelecer uma jornada de desenvolvimento cultural, com clareza sobre a cultura atual e os valores desejados para o futuro, cria a base para um crescimento contínuo e saudável. Adotar essa prática, especialmente em empresas em fase de scale-up ou profissionalização, garante que todos – desde os colaboradores até o conselho e acionistas – trabalhem com uma visão comum, essencial para a construção de um legado sustentável”, finaliza Susana Azevedo.