Confira artigo de Clara Laface, Consultora de Imagem Pessoal e Corporativa
O foco deve ser a sua carreira, e não o cargo ou o crachá. Essa frase nunca fez tanto sentido quanto agora, diante das demissões em massa promovidas pelo Itaú.
Mesmo com lucros bilionários, o banco dispensou centenas de colaboradores em diferentes áreas, alegando baixa produtividade e desalinhamento cultural. Em Fortaleza, em São Paulo e em outros polos, sindicatos denunciaram a ausência de diálogo, gerando reações no Ministério Público do Trabalho. Para quem foi atingido, pouco importa se a justificativa foi “eficiência” ou “cultura organizacional”: o impacto é concreto, atinge famílias e provoca rupturas.
Esse caso não é isolado. Em 2023, o setor de tecnologia cortou milhares de vagas em empresas como Meta, Amazon e Google. Antes disso, no Brasil, vimos cortes em montadoras e, nos anos 90, nas privatizações, quando crachás que simbolizavam status e estabilidade desapareceram de um dia para o outro. O fio condutor é o mesmo: cargos e empresas mudam, mas a carreira – construída com consciência e estratégia – permanece.
O crachá abre portas e oferece momentaneamente uma identidade, mas não sustenta sua trajetória. Quando a diretoria decide desligar centenas de pessoas de um dia para o outro, fica evidente que o valor real está na soma de competências, reputação e relacionamentos que cada profissional constrói. Quem investiu em ampliar repertório, fortalecer presença no mercado e cultivar uma rede sólida de contatos tem mais condições de se reposicionar, enquanto quem dependeu exclusivamente do cargo pode enfrentar um caminho mais doloroso. Fernando Henrique deixou de ser presidente em 2002, mas continua ouvido como intelectual. Luiza Trajano não é apenas “presidente do Magazine Luiza”; sua trajetória virou símbolo de visão de longo prazo e impacto social. Roger Federer aposentou a raquete, mas sua marca pessoal transcende a quadra. O crachá muda, mas a carreira permanece como legado.
Se você foi atingido por esse layoff, o que construiu até aqui será posto à prova. Se não construiu, talvez este seja o ponto de virada – duro, mas necessário – para reorganizar sua trajetória. Perder o emprego nunca é fácil, mas pode ser o gatilho para rever caminhos, assumir o protagonismo da própria história e não deixar que sua identidade seja reduzida ao crachá de uma empresa, por maior que ela seja.
No fim, o crachá pode ser retirado a qualquer momento. O que ninguém pode tirar é a história única que você escreve todos os dias.