Pesquisa revelou que 28% das pacientes demoraram mais de dois meses para iniciar o tratamento no SUS
O tempo é um fator crucial para o tratamento do câncer de mama. Quando detectado de forma precoce e ainda em estágios iniciais, as chances de cura e controle da doença aumentam significativamente. Os exames de rastreio como a mamografia são a chave para encontrar o tumor em estágios iniciais, mas além do diagnóstico precoce, é necessário também que o tratamento seja iniciado com rapidez, um fator que ainda é uma realidade difícil para muitos pacientes.
Uma pesquisa recente realizada com 1.237 pessoas que já foram diagnosticadas com câncer de mama indicou que, enquanto 51% das pacientes que utilizam plano de saúde iniciaram seu tratamento dentro de 30 dias após o diagnóstico, apenas 34% das pacientes do SUS vivenciaram uma situação semelhante. E embora 37% das pacientes do SUS tenham iniciado o tratamento dentro do limite de 60 dias estabelecido pela lei 12.732/12, que busca garantir tratamento em tempo hábil para pacientes com câncer, ainda havia um número substancial (28%) de pacientes que enfrentaram atrasos, chegando a até seis meses em alguns casos. No setor privado, 13% das pacientes também relataram início do tratamento após 60 dias.
Os dados são da pesquisa “Um Olhar Sobre o Câncer de Mama no Brasil”, promovida pela Roche, em parceria com a Femama e Instituto Oncoguia, e realizada pela Editora Abril. “O câncer detectado de forma precoce também precisa ser tratado de forma precoce, não adianta encontrar o tumor e demorar a tratá-lo” comenta Drª Maira Caleffi, médica mastologista e presidente da Femama. “O tempo é crucial em qualquer jornada, para pacientes em estágio inicial o tratamento iniciado, da forma mais breve possível, pode preservar as chances de cura desta paciente, por exemplo”.
Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, concorda com a visão da especialista e complementa que fala-se muito sobre a demora em detectar o câncer, mas a demora no início do tratamento também precisa ser endereçada e combatida. “Atualmente, diferentes fatores impactam o início do tratamento no SUS, desde questões ligadas ao transporte da paciente, filas de espera e problemas na disponibilização de tecnologias mais efetivas”, completa. Atualmente, 08 medicamentos oncológicos que já obtiveram o parecer positivo da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) estão com a sua disponibilização atrasada no Sistema Único de Saúde – cenário crítico que pode ser ainda mais prejudicial quando abordamos tecnologias voltados ao tratamento do câncer em estágio inicial – por causa do potencial curativo nesse cenário.
“De acordo com cruzamento de dados disponíveis no DATASUS, todos os dias, aproximadamente sete novas pacientes chegam ao SUS com o diagnóstico de câncer de mama HER2 positivo, em estágio inicial e com alto risco de recorrência da doença. Essas pacientes, por exemplo, poderiam ser beneficiadas diretamente por uma tecnologia já incorporada e que ainda não foi disponibilizada, superando o prazo dos 180 dias previstos por lei”, explica o Dr. Max Senna Mano, oncologista clínico e investigador de estudo clínico sobre esta terapia específica. A ciência evoluiu e continua evoluindo cada vez mais em busca de tratamentos personalizados e precisos para pacientes com diversos tipos de câncer, do mais indolente até os mais graves, mas esses tratamentos precisam chegar, de fato, até quem se beneficiaria dele”, finaliza o profissional.