Estratégias de prevenção combinada, atenção aos sinais de imunossupressão e ampliação da vacinação orientam o cuidado
O Ministério da Saúde divulgou o Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2025, que registra a menor taxa de mortalidade por HIV desde o início da série histórica, iniciada em 2000: 2024 apresentou 3,4 óbitos por 100 mil habitantes, uma redução de 12,8% em relação a 2023¹. O avanço está associado às estratégias de prevenção combinada (testagem regular, tratamento adequado e medidas que reduzem de forma consistente a transmissão). Segundo o CDC, agência norte-americana referência em vigilância epidemiológica, a profilaxia Pré-Exposição (PrEP) reduz o risco de infecção sexual pelo HIV em até 99% quando utilizada de forma contínua², enquanto a OMS e a UNAIDS afirmam que pessoas vivendo com HIV em tratamento eficaz e com carga viral indetectável não transmitem o vírus por via sexual³. O uso regular de preservativos também contribui para a prevenção, reduzindo o risco de transmissão entre 80% e 95%⁴.
Herpes zóster pode ser o primeiro sinal de queda da imunidade
O Dezembro Vermelho também chama atenção para condições clínicas que podem indicar redução da resposta imunológica. Entre elas está o herpes zóster, cuja incidência permanece maior em pessoas vivendo com HIV. A doença ocorre quando o vírus varicela zóster, latente após a resolução da varicela (popularmente conhecida como catapora), se reativa em momentos de fragilidade imunológica. Um estudo conduzido pelos Departamentos de Doenças Infecciosas e Dermatologia da Universidade de Fez, no Marrocos, analisou 45 pessoas vivendo com HIV entre 2015 e 2024 e identificou que em 12 delas o herpes zóster foi o primeiro sinal que levou ao diagnóstico de HIV⁵. Formas extensas ou que envolvem múltiplos dermátomos (quando o herpes zóster atinge mais de uma faixa de pele, cada uma associada a um nervo diferente) foram mais frequentes entre indivíduos com menor resposta imunológica.
Quando avaliamos sinais de redução da imunidade, observamos padrões que se repetem. Infecções recorrentes, febre prolongada sem causa definida, diarreia crônica, perda de peso involuntária e aumento persistente de linfonodos indicam a necessidade de investigação. O herpes zóster entra nesse grupo de manifestações porque depende da capacidade do organismo de manter o vírus latente. Em adultos jovens, quando é recorrente ou atinge vários dermátomos, deve gerar a hipótese de imunossupressão, incluindo HIV”, alerta Alberto Chebabo, infectologista dos laboratórios Bronstein e Sérgio Franco, da Dasa no Rio de Janeiro.
Entre os sinais clínicos associados à queda da imunidade, destacam-se ainda dermatoses persistentes, candidíase de repetição e episódios de infecções bacterianas ou virais com evolução mais lenta que o habitual. A observação desses quadros, quando somada ao surgimento do zóster, contribui para a decisão de testar para HIV e investigar outras causas de comprometimento imunológico.
“O acompanhamento laboratorial inclui a avaliação das células T CD4, linfócitos que coordenam a resposta imune e cuja redução aumenta a vulnerabilidade a infecções e à reativação de vírus latentes como o vírus da varicela zóster”, afirma o especialista.
A vacinação também integra a prevenção do zóster em pessoas vivendo com HIV. A vacina recombinante inativada é a recomendada para imunocomprometidos por não conter vírus vivo e apresentar maior eficácia. A indicação pode ocorrer a partir dos 18 anos em casos de comprometimento imunológico e para qualquer pessoa a partir dos 50 anos. Mesmo em pessoas com contagens de células T CD4 mais baixas, a vacinação reduz a probabilidade de reativação e complicações como a neuralgia pós-herpética. Pacientes com maior controle imunológico — CD4 mais alto e carga viral indetectável — tendem a apresentar resposta vacinal mais robusta, mas a recomendação não se limita a esse grupo.
“A indicação do imunizante para o herpes zóster em pessoas vivendo com HIV segue uma avaliação individual. Mesmo quando a imunidade está mais baixa, a vacinação contribui para reduzir episódios de zóster e suas complicações, e o tratamento antirretroviral adequado fortalece essa resposta.” — reforça a Dra. Maria Isabel de Moraes-Pinto, infectologista e coordenadora de vacinas da Dasa.
A integração entre prevenção do HIV, identificação de sinais clínicos de imunossupressão e vacinação compõe um conjunto de ações que fortalece o cuidado em saúde. Testar, tratar e vacinar ampliam a capacidade de reduzir novas infecções, reconhecer precocemente alterações do sistema imune e evitar complicações associadas a infecções oportunistas.
