Tais Rocha de Souza, especialista em diversidade, analisa o desmonte das áreas de inclusão em grandes empresas e o impacto disso para o futuro dos negócios
Como especialista no tema, faço questão de acompanhar os debates sobre a valorização da diversidade, tanto no Brasil quanto no exterior. No último ano, um alerta se acendeu: grandes corporações estavam encerrando as atividades de seus setores dedicados à diversidade e inclusão, inclusive com demissões em massa sob a justificativa de redução de custos.
Esse movimento, impulsionado por uma onda conservadora, já levou companhias como Google e Meta a desmantelarem iniciativas fundamentais nessa área. Temos vistos muito empresários retrógrados ignorando os benefícios concretos da diversidade para os negócios.
Para mim, isso é como repetir erros do passado, quando os departamentos de Recursos Humanos eram vistos somente como centros de custo e, por isso, não recebiam a devida atenção. Hoje, esse setor é reconhecido como estratégico para o desenvolvimento empresarial. O mesmo vale para as políticas de diversidade: ao longo dos anos, elas deixaram de ser apenas uma questão ética e passaram a ser reconhecidas como um pilar essencial para a cultura organizacional, a inovação e a geração de resultados concretos.
Criar departamentos dedicados à inclusão foi um avanço essencial para tornar o ambiente corporativo mais representativo e menos excludente. Agora, estamos assistindo a uma ofensiva reacionária que deliberadamente subestima o impacto positivo dessas políticas na lucratividade, reputação e competitividade das empresas.
Nesse sentido, os números falam por si. Investir em diversidade não é caridade, mas uma estratégia empresarial inteligente. O relatório Diversity Matters Ever More, da McKinsey, publicado em dezembro de 2023, analisou 1.265 empresas em 23 países e comprovou que organizações com maior diversidade de gênero e etnia em suas lideranças têm 39% mais chances de superar financeiramente seus concorrentes. Além disso, são mais sustentáveis e melhor alinhadas às demandas sociais e ambientais.
As empresas que eliminam suas políticas de inclusão, na prática, condenam-se à estagnação. Ao priorizar uma mentalidade corporativa defasada para agradar setores ultraconservadores, sacrificam inovação, competitividade e impacto positivo no mercado.
No mundo hiperconectado de hoje, consumidores e investidores monitoram de perto as práticas empresariais. Dar as costas para a diversidade pode resultar em uma crise de imagem irreparável para as empresas, abrindo espaço para críticas públicas, boicotes e perda de credibilidade junto aos stakeholders. O resultado? Elas ficam para trás, ultrapassadas por organizações que compreendem o valor da inclusão e investem para fazer com que seus programas de D&I avancem e atinjam seus objetivos de equidade para todos os públicos.
No Brasil, apesar desse cenário global preocupante, há sinais de resistência. Um levantamento da startup Blend Edu revelou que, em 2023, 72% das 102 empresas analisadas mantinham áreas específicas para diversidade e inclusão. Embora esse percentual ainda cresça lentamente, ele demonstra que, até agora, conseguimos evitar o desmantelamento visto nos Estados Unidos. No entanto, com o fortalecimento de discursos contrários à diversidade, especialmente vindos de políticas e empresários retrógrados, não estamos imunes aos impactos negativos desse movimento. Por isso, precisamos agir para que os esforços empresariais por mais inclusão não sejam anulados.
É hora de as lideranças empresariais no Brasil se posicionarem com clareza e coragem. Diversidade não pode ser um compromisso descartável, ajustado conforme a conveniência política do momento. As empresas devem fortalecer a capacitação de suas lideranças, aprimorar suas políticas de recrutamento e ampliar espaços para discussões que promovam a inclusão.
O papel dos líderes nessa agenda é decisivo: cabe a eles integrar a diversidade às metas estratégicas da empresa e garantir que essa pauta não seja sufocada por interesses conservadores.
No cenário atual, abandonar políticas de diversidade não é apenas um erro moral – é um retrocesso que pode ter impactos profundos para os negócios. Inclusão não é uma tendência passageira, mas um pilar essencial para inovação, crescimento sustentável e vantagem competitiva. E mais do que isso: é um compromisso que as empresas devem assumir com o futuro e as próximas gerações.
O mercado do amanhã será dominado por empresas que entendem que diversidade não é uma concessão – é progresso. Quem insiste em retroceder simplesmente não terá espaço nesse novo mundo.