Por Pedro Persichetti, sócio fundador, VP e CSO da Sail Capital
É indiscutível que o ambiente regulatório mais rigoroso e a forte concorrência empresarial têm pressionado as companhias a tomarem decisões que serão fundamentais para sua sustentabilidade e crescimento. Nesse cenário desafiador, o seguro D&O (Directors & Officers), que protege o patrimônio pessoal de executivos-chave contra processos judiciais relacionados a atos equivocados ou erros de gestão, deixou de ser um luxo para se tornar uma necessidade real.
Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), os seguros de Danos e Responsabilidades, categoria da qual o D&O faz parte, estão entre os que mais crescem no país. A expectativa é de que a arrecadação avance 7,1% até o final de 2025 em comparação ao ano anterior. Para se ter uma ideia da relevância, o valor desembolsado pelas seguradoras com apólices de D&O já ultrapassa R$ 500 milhões, reflexo do aumento da judicialização de temas corporativos e da maior cobrança por transparência.
Na prática, o D&O oferece cobertura para custos de defesa, indenizações e acordos, sempre com a ressalva de que não contempla atos de má-fé ou dolo comprovado.
O risco para executivos é concreto: reclamações podem vir de acionistas que questionam perdas financeiras, de concorrentes que alegam práticas anticompetitivas, de órgãos reguladores atentos a falhas de compliance ou até de funcionários e clientes insatisfeitos. O leque é amplo e muitas vezes inesperado. Basta lembrar os recentes processos movidos por investidores contra empresas acusadas de falhas em governança ou de omitir informações relevantes ao mercado.
Além disso, a sociedade e os órgãos reguladores têm expectativas cada vez maiores em relação a ética, governança e responsabilidade socioambiental. Falhas nessas áreas podem gerar consequências severas, que vão muito além de multas: atingem diretamente a reputação da organização e de seus gestores. Nesse sentido, a apólice de D&O também representa uma proteção estratégica para a própria empresa, que evita comprometer seu caixa com altos custos de defesa e indenizações.
Outro ponto relevante é a capacidade do seguro de fortalecer a governança corporativa. Ao oferecer essa camada adicional de proteção, a companhia cria condições para atrair e reter bons executivos, que se sentem mais seguros em tomar decisões estratégicas sem o temor de comprometer seu patrimônio pessoal. Isso gera um círculo virtuoso: empresas mais protegidas, gestores mais confiantes e mercados mais sólidos.
Mais do que um escudo, o D&O funciona como um catalisador de responsabilidade e boas práticas. Ao mesmo tempo em que dá respaldo para decisões assertivas, também delimita claramente que condutas fraudulentas não terão cobertura.
Em paralelo, a tendência é que esse seguro avance ainda mais diante de novos riscos: a digitalização, os ataques cibernéticos, as exigências crescentes de ESG e as pressões sociais por diversidade e inclusão. Executivos e companhias que adotarem o D&O estarão mais bem preparados para lidar com essa complexidade e demonstrar ao mercado que levam a sério a gestão de riscos.
Em um ambiente de negócios cada vez mais complexo e fiscalizado, considerar o seguro D&O não é apenas uma precaução inteligente: é um passo essencial para sustentar a longevidade das organizações, valorizar seus líderes e reforçar um compromisso inequívoco com a governança responsável.