Com o dólar apresentando uma valorização expressiva ao longo de 2024, a possibilidade de a moeda norte-americana atingir a marca de R$ 6 até o final do ano é motivo de preocupação para analistas e investidores. Embora o ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos costume aliviar a pressão sobre o dólar, o cenário doméstico e global aponta para incertezas fiscais no Brasil e eventos externos que podem manter a moeda em alta.
Incertezas fiscais e fuga de capitais pressionam o câmbio
A saída de capitais do Brasil tem sido um dos principais fatores por trás da desvalorização do real. “Entre janeiro e setembro, o país registrou a saída de mais de US$ 52 bilhões, reflexo da preocupação com a capacidade do governo de controlar o endividamento e cumprir suas metas fiscais”, explica Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos. Essa fuga intensificou-se, mesmo com a flexibilização da política monetária dos EUA. “Sem clareza nas contas públicas e com a falta de comprometimento fiscal, a pressão sobre o câmbio continua”, complementa Lima.
Volnei Eyng, CEO da Multiplike, reforça que a alta de 15% do dólar em 2024, apesar dos cortes de juros nos EUA, deve-se às incertezas econômicas no Brasil. Ele destaca ainda que a eleição presidencial nos EUA pode afetar moedas emergentes, especialmente se Donald Trump retornar ao poder. “Trump defende políticas protecionistas que podem reduzir a demanda por exportações brasileiras, o que impactaria negativamente nossa balança comercial e manteria o dólar pressionado”.
Impacto das eleições nos EUA e gestão fiscal brasileira
O cenário eleitoral norte-americano é um fator relevante para as previsões cambiais. “Um possível retorno de Trump, com políticas protecionistas e um governo mais deficitário, pode aumentar a força do dólar globalmente”, afirma José Alfaix, economista da Rio Bravo. Alfaix alerta que a deterioração da trajetória fiscal brasileira pode ampliar o “prêmio de risco” exigido por investidores, dificultando o equilíbrio orçamentário e levando a uma desvalorização adicional do real.
“Se o governo brasileiro não conseguir implementar ajustes críveis para conter o crescimento das despesas obrigatórias, a moeda americana pode, sim, chegar aos R$ 6”, completa Alfaix. Segundo ele, um ajuste eficiente das contas públicas é essencial para reverter esse cenário, mas o ceticismo dos investidores permanece elevado.
Política monetária global pode limitar a alta do dólar
Alguns especialistas, no entanto, são mais cautelosos quanto à possibilidade de o dólar alcançar a marca de R$ 6. João Kepler, CEO da Equity Fund Group, acredita que, apesar dos riscos, esse cenário é improvável sem choques econômicos significativos. “O Brasil tem se beneficiado do bom desempenho das commodities, o que mantém um fluxo positivo de dólares no país. Além disso, a postura mais flexível do Federal Reserve pode enfraquecer o dólar globalmente, reduzindo a pressão sobre o real”, analisa Kepler.
Essa visão é compartilhada por Milton Badan, sócio e diretor da Swiss Capital Invest. “Embora o dólar tenha apresentado alta consistente, choques adicionais seriam necessários para que a moeda atingisse R$ 6. A flexibilização gradual do Fed sugere uma menor urgência na elevação de juros nos EUA, o que tende a estabilizar o dólar”.
Controle fiscal e atração de investimentos: a saída possível
Para conter a alta da moeda americana, especialistas defendem a necessidade de políticas fiscais mais rigorosas e medidas que atraiam capital estrangeiro. Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, ressalta que “a busca por ativos seguros é um fator determinante para a valorização do dólar”. Ele sugere que o governo precisa adotar uma abordagem mais firme para reduzir a pressão cambial e evitar efeitos inflacionários.
Jefferson Laatus, chefe-estrategista da Laatus, concorda que o controle fiscal é crucial. “Sem avanços significativos no ajuste das contas públicas, o impacto da política monetária dos EUA pode ser limitado e o prêmio de risco continuará elevado, mantendo o câmbio pressionado”.
Cenário de incertezas
Combinando fatores internos e externos, a trajetória do dólar permanece cercada de incertezas. A possibilidade de a moeda atingir R$ 6 depende, sobretudo, da capacidade do governo brasileiro de implementar ajustes fiscais e do impacto das eleições norte-americanas sobre o comércio global e as economias emergentes.
Se o governo conseguir melhorar o cenário fiscal e restaurar a confiança dos investidores, o real poderá se recuperar nos próximos meses. Caso contrário, o risco de uma valorização ainda maior do dólar não pode ser descartado, pressionando ainda mais a economia brasileira.
*Com informações de Gueratto Press.