Head de estratégia de mercado da casa vê movimento como correção após forte desempenho de moedas e commodities ao longo do ano
A combinação de busca global por ativos considerados mais seguros e a recente queda das commodities voltou a pressionar as moedas latino-americanas na última semana. A leitura é de Matthew Ryan, head de estratégia de mercado da Ebury, que analisa o movimento como uma correção após meses de forte valorização desses ativos.
Segundo o especialista, o dólar voltou a se fortalecer em relação à maior parte das moedas globais, retomando o status de porto seguro em um ambiente de maior cautela dos investidores internacionais. “O dólar parece estar recuperando seu status de ativo seguro e, na semana passada, subiu em relação a quase todas as principais moedas. No entanto, os movimentos não foram muito bruscos e as faixas criadas em junho não foram ultrapassadas até o momento”, avalia Matthew Ryan.
Moedas da América Latina lideram perdas, mas seguem fortes no ano
Entre os destaques negativos da semana, as divisas latino-americanas foram as que mais perderam valor frente ao dólar, impactadas tanto pela aversão ao risco quanto pela queda expressiva das matérias-primas – importante motor para economias exportadoras da região. “As moedas latino-americanas foram as grandes perdedoras da semana passada, castigadas pela fuga generalizada para ativos seguros e pela forte queda das matérias-primas”, explica Ryan.
Apesar do recuo recente, o executivo pondera que o movimento faz parte de um ajuste natural de mercado, após meses de desempenho positivo: “Mesmo com essa correção, as moedas latino-americanas e as commodities continuam, em geral, entre os ativos com melhor desempenho do ano. As quedas recentes podem ser consideradas uma mera e saudável correção”, complementa.
Agenda esvaziada nos EUA aumenta foco em dados pontuais
Nesta semana, o foco dos mercados também é influenciado pelo calendário norte-americano. Com o feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, a agenda econômica tende a ser mais enxuta, o que aumenta o peso de poucos indicadores. “A ausência prolongada de publicações econômicas fará com que os dados de vendas no varejo, que serão divulgados na terça-feira, recebam mais atenção do que o habitual”, aponta o head de estratégia da Ebury.
Indicadores que possam alterar expectativas sobre juros nos EUA seguem no radar, já que mudanças nas projeções de política monetária têm impacto direto sobre o apetite por risco em economias emergentes e, consequentemente, sobre moedas como o real.
Europa e Reino Unido também entram no radar dos investidores
Do outro lado do Atlântico, o mercado acompanha falas de dirigentes do Banco Central Europeu (BCE), em meio a debates sobre o ritmo de cortes de juros na região.
No Reino Unido, o destaque é a apresentação do chamado “orçamento de outono”, que pode testar o momento de maior estabilidade recente da libra esterlina e dos títulos públicos britânicos. “A libra e os gilts recuperaram certa estabilidade, embora esta seja posta à prova na quarta-feira, dependendo das medidas específicas que forem apresentadas”, afirma Ryan.
O que esse cenário sinaliza para investidores e empresas
Para investidores, seguradoras e empresas com exposição cambial, o diagnóstico da Ebury reforça um ponto-chave: o ambiente segue sensível a mudanças nas expectativas de juros e crescimento, tanto nos EUA quanto na Europa. Em situações de estresse ou maior cautela, o dólar tende a se beneficiar como ativo de proteção, enquanto moedas de mercados emergentes, como as latino-americanas, ficam mais vulneráveis.
Nesse contexto, estratégias de gestão de risco cambial, diversificação e acompanhamento sistemático da agenda econômica seguem essenciais para quem atua em segmentos como comércio exterior, investimentos internacionais e, em especial, no mercado segurador, que depende diretamente da precificação adequada de riscos globais.
*Com informações de Base Comunica
