Ontem (6), o Brasil parou novamente diante da televisão para rever uma das cenas mais emblemáticas da teledramaturgia nacional: o assassinato de Odete Roitman, no remake de Vale Tudo. O mistério que, em 1989, paralisou o país – e até hoje desperta teorias – voltou a dominar as conversas nas redes sociais. Mas, em meio ao suspense e à nostalgia, uma pergunta curiosa surge: e se Odete Roitman tivesse um seguro de vida? Quem ficaria com a indenização?
Para responder a essa dúvida que mistura ficção e realidade, o Universo do Seguro conversou com Marina Mota, diretora de expansão do Grupo Caburé Seguros, que explicou, em detalhes, como funcionam as regras por trás dessa proteção financeira que garante tranquilidade aos beneficiários em caso de morte do segurado – seja natural ou acidental.
Quem herda o seguro de vida de uma vilã?
De acordo com Marina, o segurado tem liberdade total para escolher quem serão os beneficiários da apólice – e essa escolha não precisa, necessariamente, seguir laços familiares. “O segurado pode indicar livremente seus beneficiários, bem como estipular o percentual do capital segurado que será destinado a cada um. Não há limitação quanto ao número de beneficiários, nem exigência de parentesco”, explica.
Ou seja, se Odete quisesse deixar parte da indenização para seus executivos favoritos, para a governanta – ou até mesmo para a filha rebelde, Heleninha -, poderia fazê-lo sem restrições. A única exigência é que a designação conste de forma expressa na proposta de adesão do seguro.
Mas, se a poderosa empresária não tivesse indicado ninguém, entra em cena o artigo 792 do Código Civil, que determina: a indenização vai para o cônjuge e os herdeiros legais.
Dá para dividir o valor do seguro entre várias pessoas?
Sim! Marina esclarece que o valor pode ser dividido em tantas partes quantas o segurado desejar, desde que isso esteja formalizado no contrato. “A pessoa pode dividir o valor da apólice em 2, 5, 10 ou até mais beneficiários. O percentual que cada um receberá já é definido previamente. Na ausência dessa definição, vale a regra legal: 50% ao cônjuge e o restante proporcionalmente entre os herdeiros”, detalha.
Em termos práticos, se a astuta Odete tivesse sido mais previdente que sua filha, deixaria tudo documentado – evitando disputas que, certamente, fariam o clã Roitman parar nas manchetes dos jornais da época.
Quando o seguro é pago?
Outro ponto essencial é o prazo para o pagamento da indenização, algo que costuma gerar dúvidas. “O prazo legal é de 30 dias após a entrega de todos os documentos necessários pelos beneficiários”, explica Marina.
Ou seja, em um caso como o de Vale Tudo, o mistério precisaria ser resolvido rapidamente – e o assassino, identificado – antes que o valor fosse liberado.
E se o beneficiário for o assassino?
A pergunta que não quer calar. E se o próprio autor do crime fosse o beneficiário do seguro? “Se for comprovado que o beneficiário foi responsável pelo assassinato, ele perde o direito de receber o dinheiro, conforme o artigo 762 do Código Civil”, afirma Marina.
Em outras palavras, se quem matou Odete Roitman fosse o nome indicado na apólice, não receberia um centavo da indenização.
Cuidados para evitar conflitos
Para Marina, o segredo de uma contratação tranquila está na discrição e na organização das informações. “Todos os acordos firmados com o segurado devem ser mantidos em sigilo. Nenhuma informação é repassada a beneficiários antes do falecimento, salvo se houver procuração específica, justamente para evitar conflitos”, reforça.
Ficção que inspira reflexão
Mesmo que Vale Tudo seja uma obra de ficção, o caso de Odete Roitman ilustra bem a importância do planejamento sucessório e da proteção financeira familiar. Assim como na novela, a vida real também é cheia de reviravoltas – e garantir que o patrimônio seja destinado às pessoas certas pode evitar dramas fora da tela.
“O seguro de vida é um gesto de cuidado e responsabilidade. Ele traz segurança financeira imediata para quem fica, evitando incertezas em um momento de dor”, conclui Marina.
E, convenhamos: se Odete tivesse se precavido, talvez o quem matou? não fosse o único mistério a dominar o país – mas também quem herdou a fortuna da mulher mais temida da TV brasileira.