A geografia dos gastos na maior cidade do Brasil está mudando, e os dados comprovam. O novo estudo do Mastercard Economics Institute, parte da série global Economic Clock, mostra como os paulistanos estão redefinindo o uso da cidade a partir de seus hábitos em refeições fora de casa. O levantamento analisou padrões diários e semanais de consumo presencial em restaurantes e bares da capital paulista, com base em dados agregados e anonimizados da Mastercard.
O recorte da pesquisa mostra que, desde a pandemia de Covid-19, a adoção do trabalho remoto e híbrido alterou não apenas as jornadas de trabalho, mas também o comportamento de consumo, esvaziando áreas corporativas durante a semana e movimentando zonas residenciais nos cafés da manhã, almoços e até nas saídas noturnas.
Do centro ao bairro: como o trabalho híbrido esvaziou os eixos corporativos
Entre 2019 e 2025, houve um declínio visível no gasto com refeições em dias úteis nos principais polos empresariais da cidade, como Itaim Bibi e Pinheiros. Antes da pandemia, essas regiões concentravam mais de um quarto de todo o movimento em restaurantes de São Paulo. No entanto:
- No Itaim Bibi, a fatia de gastos totais de segunda-feira a quinta-feira caiu de 18,1% em 2019 para 13% em 2025;
- Pinheiros passou de 8,8% para 7,9% no mesmo recorte temporal;
- O café da manhã no Itaim, tradicional entre executivos, passou de 27,3% para 8,2%, uma das quedas mais acentuadas do estudo.
Gastos migram para comunidades locais
Enquanto os polos corporativos perdem tração, bairros de perfil mais residencial ganham força, especialmente em horários associados à nova rotina flexível. O levantamento aponta que:
- Santo Amaro, por exemplo, quase dobrou sua fatia de cafés da manhã durante a semana, passando de 3,7% para 6%;
- Em Campo Belo, esse crescimento foi de 3,4% para 4,7%;
- E nos Jardins, o consumo em almoços de segunda a quinta subiu de 7,8% para 9,2% entre 2019 e 2025.
Esses dados revelam uma reorganização urbana silenciosa: as pessoas deixaram de sair de casa para trabalhar todos os dias, mas continuam frequentando restaurantes e bares. A diferença é onde e quando isso acontece.
Novo mapa do happy hour e da vida noturna
A flexibilização da rotina de trabalho também tem influenciado os momentos de lazer. O happy hour deixou de ser exclusivo dos bairros de escritório:
- No Itaim Bibi, por exemplo, caiu de 17,7% em 2019 para 8,3% em 2025.
- No mesmo período, o Ipiranga viu sua fatia nesse horário saltar de 1,2% para 4,4%, com destaque para o crescimento de bares, espaços culturais e cervejarias locais.
Quando o assunto é vida noturna (das 23h às 3h), o movimento se repete:
- Ipiranga cresceu de 1,1% para 4,1%;
- Anália Franco, tradicionalmente residencial, também registrou aumento, de 2,9% para 3,5%.
Nova lógica urbana: descentralização e adaptação
“O que vemos é uma redistribuição dos gastos pela cidade. O consumo saiu dos polos corporativos e se espalhou por bairros com perfil mais residencial, lugares onde as pessoas agora vivem e trabalham, ainda que de forma híbrida. Isso mostra como a dinâmica urbana foi redesenhada nos últimos anos”, explica Gustavo Arruda, economista-chefe da Mastercard para América Latina e Caribe.