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Editorial: Quando a representatividade falha, a independência vira obrigação

Editorial: Quando a representatividade falha, a independência vira obrigação
Imagem gerada por Inteligência Artificial

O mercado de seguros brasileiro cresceu, se sofisticou, se digitalizou. Hoje fala de inovação, ESG, diversidade, proteção de renda, longevidade, riscos climáticos, novas tecnologias. Mas, por trás desse discurso moderno, persiste um problema antigo, estrutural e silencioso: a falta de verdadeira representatividade.

Há três anos, o Universo do Seguro tem sido construído com esforço diário, investimento próprio e dedicação integral. Não há grupo econômico por trás, não há apadrinhamento, não há atalho. Há trabalho, cobertura constante e compromisso com a qualidade da informação. Nesse período, nos aproximamos de corretores, seguradoras, resseguradoras, insurtechs, assessorias, consultorias e empresas de tecnologia. Falamos com quem está na ponta, com quem está na gestão, com quem está inovando – muitas vezes antes de o tema “pegar” nas grandes agendas.

Foi justamente esse percurso que escancarou um incômodo: nem todos cabem na foto quando o assunto é “representar o setor”.

Ao longo do tempo, tornou-se evidente que existem instâncias que decidem quem “pode” e quem “não pode” estar à mesa. Quem é considerado “parceiro institucional” e quem será mantido do lado de fora, mesmo tendo relevância, audiência e legitimidade. Os critérios raramente são públicos. Quase nunca são transparentes. E, em muitas ocasiões, parecem ter muito mais a ver com conveniência do que com mérito.

É assim que, em grandes debates nacionais e internacionais, o discurso oficial segue circulando entre os mesmos interlocutores de sempre, enquanto outros atores – inclusive veículos especializados que acompanham o setor diariamente – são sistematicamente ignorados. Não por falta de capacidade técnica. Não por falta de interesse. Mas por uma combinação de silêncio e fechamento que diz muito sobre como se enxerga a pluralidade de vozes no mercado.

Quando o padrão se repete, deixa de ser um acaso. Vira um recado.

Esse recado não é apenas ao Universo do Seguro. Ele ecoa para todos os profissionais, empresas e iniciativas que constroem o setor “por fora” das estruturas tradicionais. A mensagem é clara: “só é legitimado quem entra pela porta que alguns poucos controlam”.

Enquanto isso, a tarefa de representar o mercado – em suas dimensões regulatória, política e institucional – acaba recaindo, com muitas limitações, sobre poucos organismos. Alguns se esforçam, dentro de suas atribuições formais, para modernizar normas, ouvir a sociedade e abrir espaço ao novo. Outros tentam carregar, com recursos escassos e muitas dificuldades, a voz de milhares de profissionais espalhados pelo país. Mas o fato central permanece: para um ecossistema tão grande, há pouca gente falando de fato em nome dele.

Entre discursos oficiais e notas à imprensa, cria-se a impressão de que “o setor” pensa de um jeito único. Não pensa.

Há divergências, conflitos de interesses, visões distintas de futuro. Só que isso raramente aparece. O que chega ao público, em geral, é um mosaico cuidadosamente editado, onde só cabe o que não tensiona demais o status vigente.

É nesse contexto que a imprensa especializada – livre, independente, sem vínculos de subordinação institucional – passa a ser vista, muitas vezes, como um corpo estranho.

Questiona. Aprofunda. Não se limita a replicar comunicados. Dá espaço a quem está fora do circuito tradicional. Faz perguntas incômodas. E, por isso mesmo, costuma ser tratada com desconfiança.

O Universo do Seguro sente, na pele, os efeitos desse modelo.

Já não se trata de um convite pontual que não chegou ou de um e-mail esquecido em alguma caixa de entrada. Trata-se de uma exclusão sistemática de determinados espaços, especialmente daqueles em que a presença de uma voz independente poderia ampliar o debate, enriquecer a cobertura e trazer novas perspectivas.

Diante desse cenário, é preciso ser claro: quando a representatividade falha, a independência deixa de ser escolha e se torna obrigação.

Isso não significa fechar os olhos ao que acontece nas esferas oficiais. Pelo contrário.

Sempre que decisões, normativos, projetos ou debates impactarem diretamente consumidores, corretores, empresas e a própria sustentabilidade do sistema, o Universo do Seguro continuará fazendo o que sempre fez: informar com rigor, independência e responsabilidade.

Seja qual for a origem das iniciativas – regulatória, associativa, empresarial ou política -, o critério continuará sendo o mesmo: relevância jornalística, interesse público e impacto real no mercado. O que se encerra, aqui, não é o compromisso com a notícia. É a ilusão de que, para ser relevante, um veículo precisa estar sob a bênção de quem monopoliza o acesso.

Este editorial não nasce de um impulso de ressentimento, mas de uma constatação dura: um setor que se pretende moderno não pode conviver eternamente com portas semiabertas, preferências silenciosas e convites seletivos.

É preciso que a representatividade seja repensada.

Que espaços de debate sejam ampliados.

Que o diálogo com a sociedade, com os profissionais e com a imprensa deixe de ser um privilégio concedido a poucos e passe a ser uma prática estruturante.

Enquanto isso não acontece, o Universo do Seguro seguirá no caminho que o trouxe até aqui:

  • ouvindo quem está nas pontas;
  • dando visibilidade a quem muitas vezes não tem palco;
  • questionando quando for necessário;
  • reconhecendo boas iniciativas onde quer que estejam, sem filtros de conveniência.

Porque, no fim, a verdadeira legitimidade não é carimbo, nem cargo, nem convite. É a confiança de quem lê, acompanha e enxerga valor no nosso trabalho todos os dias.

É com essa legitimidade que seguimos.

William Anthony – MTB 94559/SP
Jornalista e Fundador do Universo do Seguro

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