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Educação empreendedora ainda enfrenta barreiras nas escolas

Bruno Sarmento Farias, treinador comportamental e fundador da Líder School / Foto: Divulgação
Bruno Sarmento Farias, treinador comportamental e fundador da Líder School / Foto: Divulgação

Embora incorporada à BNCC desde 2020, mais da metade dos professores não aplicam práticas empreendedoras em sala

Prevista na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) desde 2020, a educação empreendedora segue distante da realidade de muitas escolas brasileiras. Uma pesquisa do Sebrae, em parceria com a Fundação Roberto Marinho e o Plano CDE, aponta que 56% dos professores ainda não aplicam a metodologia em sala de aula. Entre os principais desafios estão a falta de tempo (46%), baixa interdisciplinaridade (40%) e pouca familiaridade com o tema, apenas 25% dos docentes se consideram muito conhecedores.

Mesmo que 59% tenham recebido algum tipo de formação sobre as competências gerais da BNCC, 52% afirmam não se sentir confortáveis para abordar o tema, e 70% nunca receberam treinamento específico para trabalhar competências socioemocionais, um dos pilares da educação empreendedora.

Para o treinador comportamental e fundador da Líder School, Bruno Sarmento Farias, há uma lacuna entre a intenção e a prática. “É urgente oferecer suporte prático e real para que educadores consigam transformar a política da BNCC em ações concretas dentro da sala de aula”, diz.

Segundo o especialista, o maior obstáculo não é apenas a falta de espaço na grade curricular, mas sim a cultura escolar ainda muito voltada para métodos tradicionais.

“Falta conexão com a realidade do mercado e, muitas vezes, as escolas não têm infraestrutura ou apoio pedagógico para sustentar uma proposta empreendedora. Um estudo do Sebrae mostra que, embora o empreendedorismo esteja previsto na BNCC, ainda é tratado como algo complementar e não estruturante”, aponta.

Para Sarmento, a falta de preparo dos professores também é um fator relevante e que gera preocupação. “A educação empreendedora começa no professor. Hoje, muitos não recebem formação específica para trabalhar esse tema. No entanto, quando capacitados, conseguem transformar completamente o ambiente escolar. O Programa Nacional de Educação Empreendedora, do Sebrae, já formou quase meio milhão de docentes, mostrando que, com treinamento, o impacto é imediato”, avalia.

O especialista destaca que políticas públicas e gestão escolar precisam caminhar juntas. “É papel dos gestores inserir o empreendedorismo no Projeto Político-Pedagógico e buscar parcerias. E é dever do poder público criar programas e incentivos para que isso se torne realidade, como o Cidade Empreendedora, que integra o tema de forma consistente nas escolas”.

O treinador comportamental também defende uma visão mais ampla do conceito. “Empreender vai muito além de abrir um CNPJ. É sobre liderar projetos, pensar de forma criativa, resolver problemas e agir com resiliência. Quando mostramos que o empreendedorismo é uma competência para a vida, e não apenas para o negócio, preparamos jovens para serem protagonistas em qualquer área”.

Sarmento afirma que a introdução precoce do tema traz impactos significativos no desenvolvimento socioemocional dos estudantes. “Introduzir a educação empreendedora cedo desenvolve habilidades que nenhuma fórmula matemática sozinha ensina: autoconfiança, empatia, capacidade de trabalhar em equipe, resiliência. Isso molda o caráter e prepara o estudante para enfrentar desafios de forma madura e estratégica”, pontua.

Resistência cultural

A resistência cultural de algumas famílias também é citada como barreira. “Muitas famílias ainda associam sucesso a profissões tradicionais, e isso é cultural. Para quebrar essa barreira, precisamos mostrar resultados concretos: jovens mais motivados, criativos, com visão de futuro. É preciso incluir os pais no processo, para que percebam que o empreendedorismo não substitui carreiras, mas potencializa qualquer caminho que o filho escolha”.

Quando se trata de metodologias mais eficazes, Sarmento reforça: “Não é teoria no quadro que desperta o espírito empreendedor. São metodologias ativas como projetos reais, feiras de ideias, simulações, hackathons, estudos de caso. Quando o jovem aprende fazendo, ele internaliza valores e competências de forma muito mais efetiva”.

Na avaliação do especialista, medir o sucesso dessa abordagem exige mais que contar quantos ex-alunos abriram empresas. “O sucesso não se mede apenas em quantos abriram empresas, mas em competências adquiridas: autonomia, criatividade, resolução de problemas e capacidade de liderança. Isso precisa ser avaliado e acompanhado ao longo do tempo, com indicadores claros e objetivos”, completa Bruno Sarmento Farias.

Sobre o papel da tecnologia, o treinador comportamental alerta que “vivemos na era da transformação digital, e ignorar a tecnologia é condenar o empreendedorismo escolar ao atraso. Ferramentas digitais, gamificação e até inteligência artificial tornam a aprendizagem mais envolvente e conectada com a realidade dos jovens”.

Para escolas com poucos recursos, Sarmento recomenda ação imediata. “Não espere ter a estrutura perfeita para começar. Use metodologias simples, aproveite recursos gratuitos como as formações do Sebrae, traga empreendedores locais para inspirar os alunos, e utilize a tecnologia que já está na mão de todos, o celular. Empreender é, antes de tudo, fazer mais com menos”, conclui.

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