Levantamento destaca desaceleração no estoque de créditos disponíveis, enquanto o mercado aguarda avanços em iniciativas de integridade
O mercado voluntário de carbono seguiu tendência de crescimento moderado no terceiro trimestre de 2024, além de busca por maior integridade nos créditos e mais empresas solicitando a validação na SBTi, iniciativa global de redução de emissão de gases de efeito estufa. É o que mostra o relatório trimestral divulgado nesta sexta-feira (22) pela Systemica, empresa de consultoria ambiental.
O relatório aponta que o número de aposentadorias de créditos apresentou crescimento de 11% do terceiro trimestre de 2023 para o de 2024, contrariando tendência de menor consumo neste período na série histórica. Já em relação ao segundo trimestre deste ano, o aumento foi de 7%. Projeções indicam que as aposentadorias podem superar 180 MtCO₂e até o fim de 2024, fechando o terceiro ano consecutivo acima desse patamar.
O perfil das aposentadorias passou por alterações significativas, especialmente nas preferências dos compradores. Soluções baseadas na natureza, como restauração florestal, tiveram aumento de 43% neste último trimestre, enquanto créditos de eficiência energética, com destaque para iniciativas de fornos limpos, registraram um crescimento de 29%, e os REDD+ avançaram 17%. Em contraste, os créditos relacionados a projetos de energia renovável, que representam cerca de um terço do estoque disponível, enfrentaram retração de 7%, em grande parte devido à rejeição de metodologias específicas pelo Integrity Council for the Voluntary Carbon Market (ICVCM).
Ao fim de setembro de 2024, o estoque total de créditos de carbono disponível no mercado atingiu cerca de 1 bilhão de toneladas de CO₂e, mas a taxa de crescimento tem desacelerado, passando de 48% em 2021 para 18% em 2023, com uma projeção de apenas 10% de expansão em 2024. Estima-se que metade desse estoque não atenda os padrões de integridade mais recentes, o que pode dificultar sua absorção no mercado.
Além disso, as emissões de novos créditos mantiveram a redução observada desde o início de 2024, com queda de 0,5% no terceiro trimestre comparado com o mesmo período de 2023. O declínio reflete principalmente os prazos mais longos de validação exigidos pelas principais certificadoras, bem como a estratégia dos desenvolvedores de postergar novas emissões, aguardando sinais mais claros de precificação e priorizando o escoamento dos estoques existentes.
O preço médio de todos os créditos de carbono de julho a setembro caiu 18% em relação ao trimestre anterior, encerrando o período em US$ 4,80 por tCO₂e. A queda se deve, principalmente, ao valor das emissões de projetos de restauração, que recuaram para US$ 10,80 por tCO₂e. Já os REDD+ demonstraram estabilidade, com um leve aumento de 2%, alcançando US$ 4,20 por tCO₂e. Com metodologias aprovadas pelo ICVCM no início do ano, os créditos de gases de aterro sanitário seguem em valorização, com alta acumulada de 40% em comparação com o primeiro trimestre, contrariando a tendência de estabilidade observada para outros tipos de créditos.
A integridade dos créditos de carbono
Outro destaque foi o avanço no número de empresas com compromissos validados ou revisados pela SBTi. Durante o período, 1.169 organizações tiveram suas metas aprovadas ou aprimoradas, representando um aumento de 8% em relação ao trimestre anterior e de 51% em comparação a 2023. Esse movimento consolida a SBTi como um dos principais referenciais globais para metas corporativas de descarbonização, ainda que haja perspectivas de concorrência no setor com o desenvolvimento de um padrão ISO para compromissos Net-Zero.
De acordo com o relatório, apesar dos progressos alcançados até agora, a integridade permanece um desafio. Dados deste ano da MSCI Carbon Markets indicam que 47% dos créditos disponíveis apresentam baixos níveis de integridade, enquanto apenas 7% atendem aos padrões mais elevados. No entanto, há sinais de uma migração gradual para maior qualidade: nos últimos dois anos, aposentadorias de créditos altamente avaliados cresceram 3%, enquanto os de menor integridade caíram 10%.
O documento conclui que essa evolução, embora ainda incipiente, demonstra o impacto positivo do estabelecimento de critérios mais rigorosos de qualidade definidos pelo ICVCM e de processos de diligência mais robustos. Com o avanço dessas práticas, espera-se a formação de uma base mais sólida para a estabilidade dos preços e o fortalecimento da confiança no mercado voluntário de carbono, alinhando-o aos objetivos globais de descarbonização e sustentabilidade.