Especialistas comentam desafios e oportunidades sob a perspectiva da Silver Economy
Apesar da crescente digitalização da sociedade e do avanço da Silver Economy (ou Economia Prateada) no Brasil, a população com mais de 60 anos ainda é sub-representada no mercado de tecnologia. Segundo o Relatório de Diversidade da Brasscom, a maior parte dos profissionais no setor de Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC) está concentrada na faixa dos 26 aos 35 anos (35,9%), o que revela o predomínio de uma força de trabalho jovem e reforça o desafio de ampliar a diversidade etária nessas empresas.
Nesse sentido, a combinação entre o envelhecimento da população e a escassez de talentos em áreas técnicas abre espaço para uma discussão sobre como ampliar a inclusão de profissionais mais experientes na tecnologia. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo de pessoas nessa faixa etária representa 15,6% dos brasileiros e, ao mesmo tempo, corresponde a uma fatia economicamente ativa e com experiência acumulada em diversas áreas.
Para Gilberto Reis, COO da Runtalent, empresa líder em Soluções Digitais, profissionais com mais de 60 anos têm, em muitos casos, alto repertório de liderança, capacidade de adaptação e habilidades comportamentais valorizadas no mercado atual, como escuta ativa, senso crítico e inteligência emocional. “Em um ambiente tecnológico que valoriza tanto a colaboração e a visão sistêmica, essas soft skills podem ser diferenciais competitivos importantes, sobretudo quando aliadas à vontade de aprender e à atualização constante”, enfatiza o executivo.
O especialista ressalta, no entanto, que o desafio, ainda é cultural e está relacionado, principalmente, a vencer estereótipos que associam maturidade à baixa performance digital. “É preciso estruturar trilhas de capacitação que incentivem a permanência e o protagonismo desse público no setor”, alerta.
Em uma análise mais ampla, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do IBGE, revelam que o número de idosos conectados à internet já vem crescendo de forma expressiva. Em 2019, apenas 44,8% das pessoas com 60 anos ou mais acessavam a rede. Em 2024, esse percentual subiu para quase 70%. O aumento mostra uma mudança de comportamento, além de um campo fértil para que a inovação considere os hábitos, demandas e o poder de consumo dessa população.
Dessa forma, Reis destaca que a inserção dessa população em projetos digitais não é apenas uma pauta de diversidade. “Trata-se de uma estratégia de mercado. A experiência acumulada desse público pode ser o diferencial competitivo em frentes como usabilidade, comunicação com múltiplas gerações e desenvolvimento de soluções inclusivas. Lembro, também, que esse profissional não precisa estar exclusivamente em cargos de gestão. Ele pode atuar como desenvolvedor, analista ou consultor, desde que tenha oportunidades reais de mostrar sua competência”, finaliza.
Silver Economy
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), esse mercado deve movimentar mais de 1,5 trilhão de dólares em 2025 globalmente. No Brasil, a chamada economia prateada já representa cerca de R$ 2 trilhões anuais. Trata-se, portanto, de um universo que abrange desde consumo e saúde até serviços financeiros, moradia e, claro, tecnologia.
Nesse contexto, startups e empresas que atuam com inovação têm cada vez mais oportunidades para pensar soluções que considerem as demandas dessa população. “Ainda há um distanciamento entre o ecossistema de inovação e as reais demandas da população 60+. O amadurecimento do mercado exige mais escuta, mais representatividade nos times e uma visão estratégica que enxergue longevidade como motor de crescimento”, afirma Cristián Sepúlveda, cofundador e CEO da Silver Hub, primeira aceleradora de startups com foco em longevidade da América Latina e realizadora do Inova Silver, principal evento sobre inovação e Silver Economy no Brasil.