Com lançamento oficial previsto para 2024, o Drex, nova moeda virtual brasileira vai demandar um processo de transformação digital dos negócios
Primeira moeda virtual oficial do Brasil, o Real Digital – que recentemente foi batizada de Drex – entrou em nova fase de desenvolvimento após o Banco Central (BC) brasileiro selecionar 16 propostas para participação do projeto-piloto. A previsão é de que a novidade chegue aos brasileiros em 2024 e vai impor às empresas uma transformação digital que deve ser iniciada imediatamente, segundo especialistas. Quem já estiver preparado para essa nova revolução terá vantagens técnicas e de segurança.
Um exemplo prático do impacto do Real Digital é a automatização de entrega e do recebimento por serviços prestados, conhecido como Delivery versus Payment (DvP). Por exemplo, na venda de um imóvel, a transação pode ter metas definidas em contratos inteligentes e, quando todo o processo de transferência for realizado, o pagamento será feito de forma automática, com mais segurança e velocidade. Por isso, especialistas alertam sobre a necessidade de as empresas começarem o processo de transformação digital imediatamente. “E esse processo não é fazer um site”, alerta Henrique de Castro, especialista em inovação e CEO New Rizon, empresa de inovação tecnológica. “É entender que tipo de processo pode ser automatizado para que ele aconteça no futuro vinculado com a entrega do dinheiro”.
Como todo o ambiente vem sendo desenvolvido em uma iniciativa de código aberto chamado de Hyperledger Besu, compatível com uma máquina virtual que já executa contratos inteligentes em outras redes, muitas soluções inovadoras já podem ser criadas e, quando o Real Digital for lançado ao público, elas passariam apenas por uma conversão para a moeda brasileira. “O início antecipado possibilita vários testes, evitando principalmente problemas de segurança para quando a moeda for lançada”, conta Henrique de Castro.
A preocupação com segurança foi, inclusive, um dos temas do primeiro Fórum do Real Digital, realizado pelo Banco Central brasileiro. Fábio Araujo, coordenador da iniciativa no Banco Central, demonstrou preocupação com o funcionamento da privacidade da rede e a certeza de que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) está sendo garantida pela infraestrutura. Para Henrique de Castro, este é o principal desafio.
Por ser uma rede aberta, ao mesmo tempo em que qualquer pessoa pode apresentar soluções, é possível também procurar novas formas de invasões. Em caso de vazamento de dados pessoais de um sistema, por exemplo, a pena por infração pode chegar à multa de 2% do faturamento anual da empresa. Por isso a necessidade de ter profissionais qualificados e investir em segurança. “Novas tecnologias sempre trazem novos riscos”, alerta o CEO da New Rizon. “Quanto antes iniciar o processo de desenvolvimento do sistema, mais testes podem ser realizados. É importante criptografar todos os dados para que, em caso de invasão, os dados do cliente sejam apenas textos sem sentido ou chaves”.
E a transformação também deve chegar aos empresários. Para Henrique de Castro, é importante que todos se atualizem e tornem-se ‘tech-savvy’, termo que traduz alguém que tem facilidade de aprender e utilizar novas tecnologias. “Não precisa ser um programador, nem profissional de tecnologia. Mas uma das principais dicas é que o empresário leia sobre contratos inteligentes, sobre tecnologia de registro distribuído (Distributed Ledger Technology, ou DLTs em inglês), DvPs, os termos usados no blockchain e suas aplicações, observando como eles foram utilizados fora do país”. Além disso, o especialista alerta que é importante entender sobre a descentralização de ativos e perceber que não é preciso ser uma startup para promover inovação. “Muitas vezes, aceitar o PIX como forma de pagamento já é inovar”, diz.