Victor Rizzo, Sócio e Diretor da Inov.AI, analisa uso da tecnologia no mundo jurídico
A aplicação da Inteligência Artificial Generativa está entre as principais discussões da atualidade em diversos segmentos. No universo jurídico, por exemplo, o uso de soluções como o ChatGPT tem sido questionado sobre sua legalidade e validade.
Para Victor Rizzo, Sócio e Diretor da Inov.AI (empresa que já processou mais de 500 mil documentos jurídicos), este tipo de ferramenta deve ser utilizada com parcimônia. “A chegada do ChatGPT foi uma surpresa não apenas para o público em geral, mas também para a comunidade técnica que já vinha acompanhando a evolução dos algoritmos para o processamento de textos”, sinalizou o especialista, que também é responsável pelo comitê de Governança Digital, Risco e Compliance da HYON PAR. “Essa solução trouxe uma grande antecipação em relação ao futuro para a realidade do dia a dia das pessoas”, demonstra ao explicar o funcionamento da IA Generativa em entrevista ao Universo do Seguro.
Rizzo, que também ocupa o cargo de Diretor de Inovação da E-XYON, revela que aplicações como o ChatGPT reúnem um conjunto de dados, que passam por curadoria e treinamento. “Os dados são preparados para fomentar o dataset, que é a matéria prima para o funcionamento dos algoritmos”, conta ao evidenciar que diante da imensidão de dados disponíveis também existem informações enviesadas e até mesmo incorretas.
“O algoritmo do ChatGPT é treinado de forma estatística, indicando qual a maior probabilidade de determinada palavra ser utilizada em um conjunto de informações”, pondera ao evidenciar que apenas o treinamento da primeira versão do ChatGPT trouxe um impacto aproximado de US$ 5 milhões apenas na utilização de energia elétrica, o que traz um alerta sobre o uso de recursos naturais e dos impactos ambientais deste tipo de ferramenta. “O ChatGPT faz um encadeamento das palavras mais prováveis, de acordo com a pergunta que você fez”, reforça.
Uso da IA no mundo do Direito
Victor Rizzo explica que os advogados foram um dos primeiros profissionais interessados no uso da Inteligência Artificial Generativa. “É fantástico o modo como essa ferramenta consolidou uma grande quantidade de informações sobre uma determinada matéria do Direito, por exemplo. A partir dessa síntese, o advogado consegue compreender qual a tendência de interpretação da Justiça sobre determinado tema e consegue construir uma alegação inicial ou contestação com base nessa visão do Judiciário como um todo”, exemplifica.
Entretanto, o especialista adverte que não é possível garantir que a abordagem estatística do ChatGPT vai apresentar uma informação absolutamente verdadeira. “Algumas falhas já foram identificadas por diversos usuários. Em alguns casos, a ferramenta reúne diversas informações inexistentes justamente por seu caráter meramente estatístico de formar frases e enfileirar palavras”, resume ao dizer que este tipo de situação é conhecida como “alucinação da Inteligência Artificial”.
Sobre a aplicação no universo jurídico, Rizzo pondera que o ChatGPT é uma excelente ferramenta de pesquisa e para a construção de textos iniciais. “É preciso ter atenção porque pode haver uma padronização de petições, por exemplo, e isso pode causar um empobrecimento e prejudicar que as pessoas busquem as informações, de fato, em suas fontes originais, com valor legal e técnico”, aponta.
Impacto na formação
O Sócio e Diretor da Inov.AI reafirma sua preocupação com a busca por fontes originais de informações. “Na área jurídica isso é muito grave, pois aquilo que se escreve em um processo judicial tem valor legal e afeta a vida das pessoas”, acrescenta. “A Inteligência Artificial também pode cometer erros e alucinar, as pessoas precisam compreender isso”, completa ao questionar a possível atribuição de autoridade à ferramenta da OpenAI.
Este, inclusive, será um dos assuntos abordados no próximo dia 1º de agosto, em evento promovido pela AB2L – Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs, na cidade de São Paulo. “Esse é um encontro muito relevante, que reunirá praticamente todas as empresas que atuam com tecnologia para o segmento jurídico. Essa é uma oportunidade ímpar para que os advogados participem de debates sobre as novidades da tecnologia para o segmento jurídico, um elemento estratégico para diferenciação, produtividade e redução de custos”, afirma o executivo, que também é conselheiro da AB2L.