Confira análise de Alvaro Bandeira, coordenador de economia da APIMEC Brasil
Na próxima semana teremos o Donald Trump tomando posse do seu segundo mandato, o que traz grande apreensão para o mundo inteiro.
Com base nos seus discursos de campanha e em declarações mais recentes, e equipe formada, é possível prever certo endurecimento com relação às nações mais à esquerda e um protecionismo comercial, de acordo com o primeiro mandato “América para os americanos”. Diferente do que acontece aqui no Brasil, a economia lá não dá sempre a primeira página do noticiário, a política interna e política externa é o mais importante. E isso, claro, acaba mexendo com as economias não só dos Estados Unidos, mas no mundo inteiro.
Lembramos que Trump deve ter o seu novo mandato facilitado pela composição do Congresso americano e também pela Suprema Corte. Importante será avaliar os primeiros 100 dias de seu governo, no que tange principalmente às promessas de tarifação de países e tratamento de imigrantes legais e ilegais, notadamente com relação a China, Rússia e conflitos espalhados pelo mundo, e qual a intensidade em que virão essas medidas.
Mas a economia Americana tem mostrado boa resiliência. O Fed tem absoluta autonomia na condução da política monetária e o dólar deve seguir forte, com a inflação convergindo, ainda que demorado, para a meta de 2%. E taxa de desemprego pouco acima de 4%, enquanto o PIB cresce acima de 2% nos próximos.
Importante, no caso brasileiro, seria avaliar como Trump se comportará e como o governo Lula absorverá eventuais medidas tomadas, já que Trump citou a possibilidade de sobre tarifar produtos brasileiros, principalmente produtos agrícolas. É importante manter uma relação amigável e tentar atrair capitais tão necessários ao crescimento do Brasil, evitando hostilizar.
2025 já era um ano bastante complicado e o crescimento econômico global deve ser menor, o que dificulta ainda mais, portanto, é fundamental manter boas relações diplomáticas e o Brasil tentar passar pelo governo de Trump com boas relações.
Mas precisamos guardar quais serão as primeiras medidas que ele vai adotar, principalmente no que diz respeito à tarifação de importações, como também com relação ao tratamento dado aos imigrantes, legais e ilegais. E além disso, qual a profundidade dessas medidas, se vai ser gradual, se não vai ser gradual, enfim.
Como linha mestra global, eu creio que o dólar tende a ter uma valorização, já que vamos ter certamente o protecionismo pelo governo, e isso vai colocar de volta aquela “América para os americanos”, enfim, coisas do gênero, que certamente vão valorizar o dólar. Nos outros mercados, eu acho que de cara não afeta muito não, acho que vai precisar ver, principalmente, os primeiros 90 dias do seu governo, porque isso é que vai fazer com que demonstre bem.
A equipe que ele está montando é uma equipe que dá confiança aos mercados financeiros, e isso é importante. Ontem o secretário do Tesouro teve em audiência no Congresso e foi bem, então acho que temos um quadro que é mais para o favorável. Os mercados estão mostrando isso nos últimos dias, e pode continuar a mostrar também.
Bom, inflação nos Estados Unidos é determinante do Fed, que tem total e absoluta gestão da política monetária, então a tendência é que você tenha a inflação caindo devagar, e os juros podem efetivamente cair duas ou três vezes ou no correr desse ano de 2025, com uma boa chance de concentrar um pouco no primeiro trimestre.
Então isso tudo melhora um pouco os mercados de risco e relança a economia americana, que deve ter um PIB crescendo acima de dois pontos percentuais, mas com uma taxa de desemprego ali um pouco acima ou no entorno dos 4%. Então é um quadro mais positivo, pelo menos na largada, e os mercados têm refletido isso.