Dia Mundial sem Tabaco foi celebrado no último dia 31 de maio, impulsionando o alerta sobre o tema que tem preocupado profissionais da saúde
Enquanto o consumo de tabaco caiu nas Américas, conforme aponta um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o uso dos cigarros eletrônicos segue em escalada, como indica um estudo recente do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), que aponta que 6 milhões de adultos fumantes afirmaram ter utilizado o cigarro eletrônico, ainda que seja um produto proibido no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O uso dos chamados Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), como explica Ricardo Fraga, pneumologista do Hospital Pasteur, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, aumenta mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro convencional e, em mais de quatro vezes, o consumo de cigarros comuns, com a possibilidade do uso de ambos (dual).
Tais dispositivos são compostos por bateria de lítio, sensor, microprocessador, cartucho ou refil, uma solução líquida (e-liquidos), um atomizador que aquece e vaporiza esta solução, além de bocal para inalação. “Mesmo que ocorra uma sensação de que são inofensivos, a maioria dos DEFs contém nicotina, e pesquisas mostram que mesmo aqueles que afirmam não possuir a substância em sua composição. A nicotina é uma droga psicoativa que leva à dependência e ao ser inalada através destes dispositivos, ela chega ao cérebro mais rápido, mais intensamente do que pelo cigarro convencional, promovendo muito mais prazer e risco de dependência ainda”, informa.
O especialista explica que no líquido, à base de propilenoglicol e/ou glicerina, são dissolvidos nicotina, junto a cerca de 16 mil tipos de essências flavorizantes com sabores agradáveis, como frutas, chocolate, sorvete e menta, além de possuírem formatos, cores e até personagens diferentes, o que atrai bastante jovens que acabarão se expondo à nicotina e às outras substâncias contidas.
“Uma carga do dispositivo contém 20 vezes mais nicotina e podem provocar dependência de difícil resposta aos tratamentos atuais. Foram identificadas, até o momento, cerca de 80 substâncias nos aerossóis, sendo muitas delas tóxicas e cancerígenas. Também são fatores de risco para doenças respiratórias e cardiovasculares. Algumas destas substâncias são conhecidamente cancerígenas e em pesquisas de laboratório o cigarro eletrônico se confirmou cancerígeno para o pulmão e bexiga de camundongos”, alerta.
“Além disso já conhecemos uma doença diretamente relacionada a esta exposição, a EVALI (E-Vaping Associated Lung Injury), uma manifestação pulmonar semelhante à dos casos graves de COVID, que levou só nos EUA entre 2019 e 2020 a 3 mil internações e 68 mortes”, acrescenta Ricardo Fraga.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos no Brasil (RDC 46/2009). “No entanto, a experimentação segue crescendo, especialmente, entre os jovens”, observa o especialista.
Recentemente, com o intuito de coibir a venda e reverter tal cenário, a agência manteve a resolução, apoiada por uma melhor fiscalização e realização de campanhas educativas, especialmente para essa faixa etária. “Acredito que há uma necessidade maior de se abordar o tema e deixar ainda mais evidente os alertas em todos os canais possíveis, que possam alcançar esse público, iludido com a falsa ideia que s DEFs são inofensivos”, finaliza o médico.