Deisi Diel, coordenadora do curso de Comércio Exterior no Centro Universitário Cesuca, analisa os desdobramentos da posse de Trump como presidente dos Estados Unidos e os reflexos para a economia global e brasileira
Donald Trump tomou posse como o 47º presidente dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2025, aos 78 anos, tornando-se o presidente mais velho da história do país a assumir o cargo. Em seu discurso de posse, Trump declarou que “a era de ouro da América começa agora”, marcando o início de um mandato pautado por promessas de mudanças em políticas econômicas e internacionais.
A reeleição de Trump foi impulsionada pela preocupação dos eleitores com a economia, imigração e pela insatisfação com a administração anterior. Entre as primeiras medidas anunciadas, destacam-se a declaração de emergência nacional na fronteira com o México, a retirada dos subsídios para veículos elétricos, o abandono do Acordo Climático de Paris e o anúncio de políticas voltadas ao protecionismo econômico, priorizando a produção interna e revisando acordos globais.
Para Deisi Diel, especialista em comércio exterior e coordenadora do curso no Centro Universitário Cesuca, a política “America First”, uma das marcas da gestão Trump, pode gerar impactos diretos nas relações comerciais globais. “O protecionismo tende a afetar os mercados emergentes, como o Brasil, que dependem das exportações para os Estados Unidos. No entanto, essa postura também pode abrir lacunas estratégicas que o Brasil deve buscar aproveitar, como ocorreu no primeiro mandato de Trump, quando nossas exportações de soja e carne cresceram devido às restrições impostas à China”, comenta.
Historicamente, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Segundo dados do Comex Stat de 2024, o déficit da balança comercial entre os dois países foi de apenas USD 253,3 milhões, evidenciando uma relação equilibrada, mas ainda desafiadora. Deisi ressalta que, apesar do alinhamento político do governo Bolsonaro com Trump ter facilitado acordos no passado, a atual postura diplomática brasileira sob a presidência de Lula pode enfrentar dificuldades. “O apoio declarado de Lula à candidatura de Kamala Harris pode impactar a relação bilateral, exigindo esforços do governo brasileiro para manter o interesse norte-americano em setores estratégicos como energia, agricultura e tecnologia”, avalia.
Outro ponto destacado por Deisi Diel é o impacto das tarifas protecionistas sobre produtos como aço e alumínio brasileiros, que marcaram o primeiro mandato de Trump. Segundo ela, essas medidas exemplificam o desafio constante do Brasil em equilibrar os ganhos comerciais com as barreiras impostas pelos Estados Unidos.
Além disso, a especialista alerta para os possíveis efeitos de uma nova onda de desglobalização. “Com movimentos como o nearshoring, friendshoring e reshoring, a tendência de reduzir a dependência do exterior pode limitar as oportunidades para mercados emergentes. Apesar disso, o Brasil pode se beneficiar em nichos estratégicos, desde que adote políticas fiscais robustas e esteja preparado para enfrentar a volatilidade cambial”, afirma.
Deisi conclui que, embora a imprevisibilidade de Trump traga incertezas, o Brasil deve fortalecer sua posição no comércio exterior com estratégias que garantam competitividade e agregação de valor. “Mais do que nunca, é essencial diversificar parcerias e aproveitar as oportunidades criadas pelas mudanças na dinâmica global, sem deixar de se preparar para os desafios do protecionismo americano e da volatilidade econômica”, finaliza.