Não é preciso abrir mão da satisfação à mesa para uma alimentação mais saudável, explica a especialista
A alimentação é um dos principais fatores que influenciam a saúde e a longevidade. Uma dieta equilibrada e saudável fornece ao organismo os nutrientes necessários para o seu bom funcionamento, ajudando a prevenir doenças e impactando diretamente na qualidade de vida. Além disso, uma alimentação saudável pode prevenir doenças crônicas como, diabetes, hipertensão, câncer e doenças cardíacas, que são as principais causas de morte no mundo. Ainda melhora a imunidade, tornando o organismo mais resistente a infecções, melhora o humor e aumenta a disposição e energia para as atividades do dia a dia.
A questão é, se os benefícios da boa alimentação são conhecidos e reconhecidos pela maioria das pessoas, porque ter uma prática alimentar saudável ainda é um desafio? Segundo os dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde, em 2022, 31,88% da população brasileira estava classificada pelo Índice de Massa Corpórea (IMC) na categoria obesidade e 34, 63% em sobrepeso, ou seja, mais de 60% em situação que coloca em risco a saúde.
Em outra pesquisa, com os dados coletados numa amostra de 62.500 voluntários, de todas as regiões do Brasil, 27,4% das crianças e adolescentes do país apresentaram colesterol alto, conforme parâmetros da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Segundo estimativa do Ministério da Saúde, atualmente, 7,2 milhões de crianças e adolescentes no Brasil estariam obesas. Uma tendência mundial, de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade que aponta um crescimento exponencial em todo o mundo.
Para a nutricionista Jacqueline Wahrhaftig, a Amparo Saúde, empresa que integra o ecossistema Grupo Sabin, “embora a alimentação seja de fato um dos pilares da prevenção em saúde, as pessoas ainda relacionam alimentação saudável com pouco sabor e consequentemente menos satisfação e também com alto custo. Esses fatores associados a falta de tempo, mal do nosso século, dificultam em muito a adesão a uma rotina alimentar mais saudável”, explica. “Mas ao contrário do que se pensa, uma alimentação saudável pode e deve ser saborosa e não precisa custar mais caro”, complementa a profissional.
A pesquisa A Mesa dos Brasileiros, realizada pela Fiesp e Ciesp, destaca os três aspectos mais importantes nas escolhas alimentares dos entrevistados: marca conhecida/de confiança, ser gostoso e saboroso e ser barato. Ser nutritivo aparece somente em quinto lugar.
“É fundamental termos uma noção mais ampla sobre o que é se alimentar de forma saudável. Ao contrário do que muitos pensam, não tem a ver com restrição e sim, com quatro pilares que precisam ser considerados na alimentação: qualidade, quantidade, frequência e contexto. É preciso colocar esses quatro itens em perspectiva nas escolhas alimentares diárias”, destaca a nutricionista.
Pode parecer difícil, mas com as dicas abaixo, é possível melhorar a qualidade da alimentação sem perder o sabor ou gastar mais.
- A primeira dica é “descascar mais e desembalar menos”, isto é, inserir mais legumes, verduras e frutas na alimentação diária. Para isso a nutricionista destaca que é possível se beneficiar da sazonalidade. “Cada estação tem seus alimentos, como a manga no verão, o morango no inverno e assim por diante. Na sua época, os alimentos são mais baratos e até mais saborosos, aproveite para experimentar novos sabores e coloque em cada refeição mais nutrição”.
Fique atento e controle o consumo de alimentos ultraprocessados, “os embalados”, como biscoitos recheados, salgadinhos “de pacote”, refrigerantes ou macarrão “instantâneo”. Esses alimentos são nutricionalmente desbalanceados e por conta de sua formulação e apresentação, tendem a ser consumidos em excesso e a substituir alimentos in natura ou minimamente processados na alimentação.
“Quando olhamos para a história, observamos que à medida que aumentamos o consumo de ultraprocessados, reduzimos a qualidade da nossa alimentação. Não se trata de não comer nunca e sim de não basear a sua alimentação nesse tipo de alimento”, alerta a nutricionista. “Então se hoje a sua alimentação inclui refrigerante diariamente, a dica é, regule. Reduza a quantidade consumida e a frequência”.
- O planejamento também é outra dica valiosa, “planejamos tudo em nossa vida, mas deixamos a alimentação para a hora da fome e acabamos optando pelo rápido, prático e nem sempre saudável ou até mesmo barato. Por isso, planejar a alimentação é fundamental, desde o momento da compra, ao preparo. É importante ter opções disponíveis e práticas na hora que a fome chega ou quando o cansaço tira a vontade de cozinhar”. Para isso a profissional sugere escolher um dia da semana para planejar e preparar as refeições, que devem ser porcionadas e armazenadas em geladeira ou congelador. “verduras e legumes lavados e picados podem durar até uma semana ou mais na geladeira se foram armazenados adequadamente”.
E para terminar, uma dica extra. Aproveite as redes sociais e desenvolva suas habilidades culinárias. Existem inúmeros perfis com dicas, receitas e passo a passo para te ajudar a melhorar o sabor dos seus pratos e a ampliar seu repertório de receitas. Além disso, cozinhar também pode ser um momento gostoso a ser compartilhado com a família e amigos, proporcionando além de saúde, relacionamentos mais saudáveis e boas memórias.
“Uma outra questão que tem aparecido muito no consultório agora na pós pandemia é a piora da relação com a comida. Precisamos resgatar essa relação se quisermos desfrutar de uma vida mais longa e saudável”, conclui Jacqueline.