“Conciliar os laços familiares com as exigências do mercado é um desafio constante para empreendedores de negócios familiares”, diz Osmar Simões, advogado empresarial e tributarista
Criar uma empresa familiar pode ser um sonho realizado para muitas pessoas, uma oportunidade de reunir familiares em torno de um objetivo comum e de fortalecer os laços. No entanto, administrar uma empresa familiar também pode ser um desafio complexo. A mistura entre negócios e relacionamentos pessoais pode dar margem a conflitos e dificuldades de gestão, especialmente quando não há uma clara separação entre os papéis familiares e profissionais. Nos últimos dias, temos visto diversas matérias sobre o conflito entre a atriz e influenciadora Larissa Manoela e seus pais na quebra de sociedade das empresas. No Brasil, segundo o Banco Mundial, 90% das empresas têm perfil familiar, respondem mais da metade do PIB e empregam cerca de 75% da força de trabalho. O que aconteceu com a influenciadora, apesar do cenário diferenciado por se tratar de uma artista, é comum. Segundo a mesma fonte, a estatística aponta que apenas 30% das empresas familiares chegam na 3ª geração e apenas metade disso, ou seja, 15% sobrevivem.
Osmar Simões, advogado que atua há mais de 30 anos em consultoria tributária e societária, fala sobre a difícil missão de gerir uma empresa familiar. “Conciliar os laços familiares com as exigências do mercado é um desafio constante para empreendedores de negócios familiares”, diz o especialista que pontua os principais desafios:
“A passagem da gestão de uma geração para a seguinte, ou seguintes, talvez seja o maior desafio. Não são apenas desafios legais, são também culturais, ideológicos e comportamentais. Em boa parte dos casos, surgem divergências e, por vezes, se transformam em conflitos sérios, ora entre as diferentes gerações, ora entre os integrantes de uma mesma geração”, avalia Osmar.
Evitar conflitos de interesse é um dos pontos mais complicados em negócios, principalmente envolvendo família. Existem algumas práticas legais para abordar questões de governança corporativa em empresas familiares e não se envolver em divergências. “Entendo que transparência, comunicação e a adoção do que é chamado princípio Arms Length, ou seja, tratar os negócios no âmbito familiar em igualdade de condições como trataria com um estranho, são princípios inegociáveis”.
Como o próprio Osmar ressalta, esse é um ponto que dificulta a gestão, separar aspectos emocionais dos aspectos estratégicos e técnicos dos negócios. “Normalmente o resultado dessa mistura será confusão e problemas, especialmente se houver diversos membros familiares em posições equivalentes (irmãos, primos). Para se prevenir essa situação, o melhor caminho é a formação e treinamento dos membros da família e a implementação de governança robusta”.
Preparando as próximas gerações
Em falar em preparar as futuras gerações para assumir cargos de liderança, Osmar Simões declara que é necessário seguir algumas práticas. “Planejar primeiro, implementar boas práticas de governança, formar e treinar as futuras gerações, motivá-las positivamente para o negócio e monitorar a transição, se necessário, mesclando a gestão com profissionais experientes de mercado”, diz o advogado que lista cinco dicas para quem quer iniciar o preparo do seu sucessor na empresa:
- Adotar os critérios mais objetivos possíveis;
- Não ter expectativas super ou subdimensionadas em relação ao sucessor;
- Não se comparar com ele ou incentivar o contrário;
- Se tiver mais de um potencial sucessor, teste todos, não faça uma escolha empírica;
- Cobre dedicação e entrega de resultados desde sempre.
“Embora administrar uma empresa familiar apresente desafios únicos, é possível superá-los com planejamento, comunicação aberta e profissionalização da gestão. Manter um equilíbrio entre os aspectos familiares e empresariais, estabelecendo limites claros, é essencial para alcançar o sucesso e a longevidade do negócio. A empresa familiar pode ser uma fonte de orgulho e união para a família, desde que os desafios sejam enfrentados com maturidade e visão estratégica”, finaliza Osmar Simões.
